A situação do Hospital dos Pescadores (Hospesc), em Natal, é um retrato cruel do descaso da gestão municipal com a saúde pública. Há cerca de um ano, a escassez de insumos tornou-se parte da rotina da unidade, comprometendo gravemente o tratamento dos usuários (as) e expondo-os a riscos associados à ausência de medicamentos essenciais.
Faltam itens básicos como protetores gástricos (omeprazol, pantoprazol), medicamentos para prevenção de trombose (como Hemofol, atualmente indisponível, e Clexane, reservado apenas para casos de maior risco), além de remédios para controle de arritmias (Ancoron, tanto via oral quanto endovenosa). A unidade também não dispõe de Aerolin, frequentemente solicitando que familiares comprem o medicamento por conta própria. Laxantes como a lactulose estão em falta, assim como Tramal via oral.
A escassez afeta também os profissionais de saúde: faltam toucas descartáveis, as máscaras são distribuídas em quantidade insuficiente para a demanda e os capotes descartáveis. Ou seja, os itens fundamentais dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) também estão ausentes, comprometendo a segurança dos trabalhadores e favorecendo a proliferação de microrganismos no ambiente hospitalar.
Outro problema recorrente é a insuficiência de profissionais da enfermagem. O dimensionamento das equipes é inadequado, resultando em sobrecarga para os técnicos de enfermagem, especialmente diante do número elevado de pacientes internados. Na UTI adulta, por exemplo, há dias em que 10 pacientes são atendidos por apenas 3 ou 4 técnicos, quando o ideal seriam no mínimo 5. Nos setores de internação, clínica médica e psiquiatria, chega-se a ter 18 pacientes sob os cuidados de apenas 2 técnicos.
Essa sobrecarga de trabalho adoece os profissionais e compromete a qualidade da assistência prestada. A população usuária do SUS é diretamente afetada, recebendo um cuidado deficiente e inseguro. Para suprir a falta de pessoal, é comum que enfermeiros e técnicos sejam submetidos a dobras de plantão, enfrentando jornadas exaustivas de até 36 ou 48 horas consecutivas, o que é inaceitável. Não se trata mais só de negligência, mas de um verdadeiro projeto de sucateamento que favorece o setor privado enquanto o povo sofre sem assistência. Até quando iremos denunciar esse caos? Exigimos fiscalização e resolução de todas as problemáticas já!