Fernanda Soares
Fernanda Soares

10/12/2020, 11h


O início desta semana foi marcado pela assombrosa notícia de que o governo do presidente Jair Bolsonaro (ex PSL) pretende revogar cerca de 100 portarias, editadas de 1991 a 2014. Uma vez confirmada, a iniciativa representa uma ameaça direta às políticas de saúde mental da rede pública do país, entre elas os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

De acordo com a Planilha do grupo técnico do Ministério da Saúde, dentre as principais propostas de mudanças na política de saúde mental, estão: 

- Revoga mecanismos de fiscalização e estímulo a redução do tamanho dos hospitais psiquiátricos

- Extingue equipes que apoiam a transferência de moradores de hospitais psiquiátricos para serviços comunitários

CAPS; 

- Propõe que façam apenas reabilitação, possivelmente deixando o atendimento psiquiátrico para outro serviço

- Cogita extinção dos Caps voltados aos usuários de álcool e drogas

Atendimento comunitário

- Cogita transferência dos serviços residenciais terapêuticos e o Programa De Volta para Casa para assistência social

- Extingue serviços para atendimento à saúde da população em situação de rua

Internações involuntárias

- Afrouxa controle sobre internações involuntárias, revogando portaria que determina comunicação ao Ministério Público

Gestão e articulação da política de saúde mental

- Dissolve instância que reúne os principais gestores da política de saúde mental do país.

- Revoga composição do Fórum Nacional sobre Saúde Mental de Crianças e Adolescentes.

Saúde mental indígena; 

- Revoga diretrizes atuais

Política de drogas

- Transfere responsabilidades para o Ministério da Cidadania

- Define abstinência como objetivo principal e redução de danos como complementar

- Interrompe distribuição de insumos para evitar transmissão de doenças durante uso de drogas

- Retira a possibilidade de atendimento de pessoas com dependência química em Caps

- Defende a criação de serviços específicos para pessoas com diagnóstico de dependência e outro transtorno psiquiátrico

- Transfere financiamento e regulação de unidades de acolhimento para o Ministério da Cidadania.

O chamado “revogaço” é só mais um exemplo das terríveis tentativas de desmonte do SUS promovido pelo governo Bolsonaro. A notícia repercutiu negativamente nas redes sociais entre profissionais da área da saúde, usuários dos programas de tratamento e políticos. A este exemplo, Vera (PSTU) que foi candidata à prefeitura de São Paulo se posicionou dizendo que “Organizar uma campanha massiva pelo "Fora, Bolsonaro e Mourão" é uma questão de vida ou morte” e finalizou seu post com a hastag #DefendamOCAPS, muito utilizada por quem é contra as novas medidas. 

O CNS (Conselho Nacional de Saúde) também se manifestou repudiando as propostas de revisão da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e de mudanças no modelo assistencial em saúde mental no país, que é referencia no modelo antimanicomial no mundo. No documento, o conselho afirma que a política nacional de saúde mental vem sofrendo ataques por meio do desmonte da Raps e do fortalecimento de políticas segregadoras, marcadas pela ascensão das comunidades terapêuticas e edição de normativas e de financiamento público voltados à internação da população em situação de rua e de adolescentes.

"Isso desconsidera o processo histórico e político-legislativo de avanços de uma política desinstitucionalizadora e antimanicomial, conquistada por ampla mobilização e participação social." acrescenta a nota. 

Ainda que o Ministério afirme que intuito é tornar assistência mais resolutiva, o CNS reitera que qualquer ato que se relacione à Política Nacional de Saúde Mental deve respeitar os preceitos instituídos, devendo ser discutido democraticamente nas conferências nacionais temáticas e nas instâncias coletivamente representadas.

O Sindsaúde RN repudia veemente todos os ataques feitos por Bolsonaro e sua corja aos SUS e às políticas de saúde mental no Brasil. FORA BOLSONARO E MOURÃO!