CSP-CONLUTAS
CSP-CONLUTAS

26/05/2025, 07h


Uma reportagem publicada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, filiado à CSP-Conlutas, joga luz sobre um problema alarmante e crescente: o vício em jogos on-line, especialmente as chamadas bets, que têm devastado a vida de inúmeros trabalhadores. Os relatos apresentados são contundentes.

Um operário da Embraer, por exemplo, perdeu R$ 30 mil no famigerado “jogo do tigrinho” e precisou ser internado para tratamento. Outros relataram a diretores do Sindicato que chegaram a se endividar com agiotas, entraram em depressão profunda e até pediram demissão na tentativa desesperada de sanar dívidas contraídas com apostas. 

Não são histórias isoladas. Estudo da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e do Instituto Datafolha revelou que 23 milhões de brasileiros apostaram em bets apenas no ano passado.

De acordo com dados divulgados na CPI das Bets no Senado, os apostadores chegaram a gastar até R$ 30 bilhões por mês com essas plataformas no início de 2025. Hoje, o Brasil conta com 163 plataformas de apostas on-line regulamentadas pelo governo federal, que legalizou esses negócios.

O vício em jogos é classificado como transtorno grave pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas, mesmo assim, segue sendo amplamente estimulado de diversas formas, como através de patrocínios de times de futebol, redes sociais e também com a conivência de governos.

Os influenciadores digitais

Além da facilidade de acesso, inclusive por menores de idade, o estímulo ao vício vem de celebridades e influenciadores digitais. Um dos casos mais emblemáticos é o da influenciadora Virgínia Fonseca, que prestou depoimento à CPI no último dia 13.

Com mais de 53 milhões de seguidores, ela admitiu que seus contratos preveem bônus de 30% caso consiga dobrar os lucros das casas de aposta, embora tenha negado a chamada “cláusula da desgraça”, que atrela os ganhos do influenciador às perdas do apostador.

O depoimento foi um verdadeiro “show de horrores”, desde o cinismo da depoente a deputados da direita tirando selfies, enquanto trabalhadores amargam dívidas e doenças mentais.

Conivência dos governos

A conivência dos governos com esse setor é evidente. Um exemplo escandaloso vem de Recife, onde a Câmara Municipal aprovou o Projeto de Lei nº 15.563, enviado pelo prefeito João Campos (PSB), que reduz a alíquota do ISS (Imposto Sobre Serviços) de 5% para 2% justamente para empresas de jogos, loterias, sorteios e casas de apostas on-line. Ou seja, enquanto trabalhadores comprometem o salário e a saúde nesses jogos, o poder público atua para aliviar a carga tributária dessas empresas bilionárias.

A medida gerou forte repercussão negativa nas redes sociais. Muitos usuários criticaram a decisão e relacionaram a aprovação do projeto aos patrocínios que empresas de apostas têm dado a eventos promovidos pela própria prefeitura.

Trabalhadores sufocados pelo capitalismo

O Sindmetalsjc alerta que a simples regulamentação não é suficiente para conter esse problema, pois o que está em jogo é a vida de trabalhadores mergulhados em falsas promessas de enriquecimento rápido, em um contexto de crise, salários achatados e cada vez mais ataques aos direitos trabalhistas. A entidade destaca “os trabalhadores são sufocados pelo capitalismo”.

“É fundamental que pessoas com esse tipo de vício procurem apoio e tratamento. Estamos vendo trabalhadores se afundarem nesses jogos on-line, enquanto as casas de apostas e os influenciadores digitais têm ganhos milionários. A regulamentação não é suficiente para barrar esse grave problema vivido por famílias brasileiras. Também temos de considerar que os trabalhadores são sufocados pelo capitalismo. Num cenário de salários baixos, preços altos e condições precárias de vida, a população se sente atraída pelas falsas promessas de riqueza. Neste jogo, quem perde é sempre o trabalhador”, afirmou Herbert.