Apesar do discurso histórico em defesa da classe trabalhadora e do serviço público, os governos do PT seguem sustentando a terceirização como pilar de gestão na saúde e em outras frentes. A prática, que deveria ser combatida por um projeto político de esquerda, se mantém no Brasil com Lula e no Rio Grande do Norte sob a gestão de Fátima Bezerra, aprofundando a precarização, a insegurança e os ataques aos direitos trabalhistas.
Nos maiores hospitais da rede estadual, a cena é conhecida: atrasos de salários, falta de pagamento de auxílios, demissões arbitrárias e trabalhadores(as) obrigados a paralisar suas atividades diante de meses de descaso. No Walfredo Gurgel e no Giselda Trigueiro, greves recentes de funcionários terceirizados da nutrição revelaram um verdadeiro colapso, deixando servidores e acompanhantes sem refeições. O quadro é ainda mais grave porque, sem os terceirizados, o funcionamento de setores essenciais como nutrição, higienização, lavanderia, transporte de pacientes e serviços de atendimento como os que paralisaram recentemente no SAMU Metropolitano, simplesmente não funcionam.
Essa situação não é isolada. Como denunciou o Manifesto contra a Terceirização e a Precarização do Trabalho, elaborado em 2023 pelo Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) com apoio de entidades e juristas, a terceirização se consolidou como um instrumento jurídico a serviço do grande capital, permitindo que empresas e governos se desresponsabilizem por violações trabalhistas e até mesmo por casos de trabalho análogo à escravidão. Na época, estimava-se que mais de 12,5 milhões de brasileiros eram terceirizados, a maioria mulheres e negros, recebendo salários menores e com menos direitos.
No caso da saúde pública, a contradição é ainda maior: governos que deveriam defender a valorização dos servidores por meio de concursos públicos entregam funções essenciais à lógica do mercado, transformando hospitais em verdadeiros espaços de precarização. No Rio Grande do Norte, a prática é reproduzida pela governadora Fátima Bezerra, que construiu sua trajetória ligada à educação e ao movimento sindical, mas mantém trabalhadores efetivos e terceirizados em situação de abandono.
A luta contra a terceirização não é contra os(as) trabalhadores(as) terceirizados(as), mas contra um modelo que perpetua desigualdades, degrada os serviços públicos e fragiliza direitos. Para o Sindsaúde/RN, a solução passa por concursos públicos em todas as áreas da saúde, garantindo estabilidade, salários dignos e qualidade no atendimento à população.
Enquanto isso não acontece, servidores (as), pacientes e acompanhantes seguem pagando a conta da negligência do Estado e do lucro das empresas terceirizadas.