“A palavra da governadora Rosalba é um risco n’água”. Assim foi o desabafo do presidente do Sindicato dos Policiais Civis do RN (Sinpol), Djair Oliveira, para os jornalistas presentes na entrevista coletiva, na manhã desta segunda-feira. “Todos os acordos que foram feitos após a nossa greve não foram cumpridos. As delegacias continuam funcionando como cadeias, pois os presos não foram retirados; os concursados não estão sendo nomeados e a limpeza das delegacias continua sendo feita pelos policiais”, afirmou.
Na Educação e na saúde, acordos também não foram cumpridos. “Até novembro, menos de 1% dos compromissos assumidos pelo governo após a nossa greve de 17 dias tinham sido cumpridos”, revela Fátima Cardoso, coordenadora-geral do Sinte-RN. “Pelo menos três projetos de Lei ficaram de ser enviados para a Assembleia Legislativa. Já cercamos a governadora e ela sempre diz que vai enviar e não envia”, denuncia.
Na saúde, após a greve de 34 dias, o governo assumiu compromissos por escrito, como o pagamento de um reajuste de 2012 aos aposentados e a implementação do internível de 3%, em 2014. Agora, no fim do ano, o governo não tem garantias de que fará o pagamento aos aposentados e mudou o prazo para pagar o internível. “O secretário de Saúde chegou a dizer que, se o acordo não fosse cumprido, ele pediria exoneração. E agora?”, questiona Simone Dutra, coordenadora-geral do Sindsaúde.
Nesta terça, os servidores da saúde retomam a greve. Eles exigem a garantia dos compromissos e o envio de um projeto de lei para a Assembleia Legislativa, com a tabela do internível e os prazos que haviam sido assumidos, em 03 de setembro.
A situação dos servidores da Administração Indireta talvez seja ainda pior do que a das demais categorias. “Não há sequer acordo, não há entendimento, não há nada”, diz Santino Arruda, do Sinai. “Há três anos que não há uma reunião com efeito prático. Fizemos oito encontros neste ano, sem nada concreto. O tratamento aos servidores é muito ruim. No Detran, que é um órgão que dá lucro ao Estado, foram 53 dias de greve e nenhum aceno, simplesmente nada”, afirma.
SITUAÇÃO DOS SERVIDORES PIOROU - Para Djair, além dos acordos não terem sido cumpridos, a situação dos policiais civis piorou: “O governo limitou a quantidade de gasolina para 45 litros por semana. Na prática, ninguém mais sai de carro de sexta à domingo, porque não tem gasolina. Não é só combustível que falta. As munições são tão poucas, que o pessoal rateia pra poder sair para uma operação e não morrer”.
A situação vivida pelos policiais civis se repete em todas as categorias. “A situação do servidor da saúde agora está pior do que quando fizemos a greve”, afirmou Simone Dutra. “As férias só começarão a se pagas em janeiro, gratificações foram cortadas e há uma redução de pessoal nos hospitais, que faz com que trabalhemos muito mais. Temos técnicos cuidando sozinhos de 20 pacientes”, denuncia.
Na Educação, a quebra de acordos afeta a categoria. “Temos professores com até quatro licenças-prêmios acumuladas. Ele tem direito, pede, mas o governo não libera. Isso contribui para o adoecimento”, conta Fátima Cardoso. “Além da falta de condições de trabalho: Terminamos o ano com o teto das escolas caindo”.
Para os sindicatos, não há razões para o governo Rosalba Ciarlini tratar desta forma os servidores e para reduzir investimentos nas áreas sociais. “O governo do Estado tem tido uma saúde financeira muito boa e, na Educação, o repasse do Fundeb tem sido garantido ao Estado”, conta Fátima. Simone Dutra denuncia a queda de investimento. “A Saúde recebe cada vez menos e a demanda só aumenta. O salário do servidor da saúde está congelado há anos. O governo não está preocupado com educação, segurança, saúde... Só pensa na Copa do Mundo”, denuncia.
GREVES EM 2014 - Os sindicatos aproveitaram a coletiva para anunciar as próximas mobilizações. Além da greve da saúde, que inicia nesta terça-feira (10), o Sindsaúde já planeja a continuidade da luta em 2014. “Temos agora uma greve pontual, para que o governo assuma os compromissos e envie o Projeto de Lei. Mas 2014 será um ano de muita luta. Vamos precisar de uma greve unificada do funcionalismo, no ano da Copa”, defendeu Simone Dutra.
Os professores realizam assembleia nesta terça, 10, e vão discutir a proposta de greve no retorno das aulas, em janeiro. “As aulas podem não começar”, avisa Fátima.
Já os policiais civis e os servidores do Itep realizam assembleias na próxima semana (16 e 18), que devem aprovar o início da operação “Polícia Legal”. “Vamos fazer o que determina a Lei. Não vamos sair com munição vencida, não vamos dar mais jeitinho pra fazer as coisas funcionarem. Depois dessa operação, se as negociações não avançarem, teremos greve no ano que vem”. O presidente do Sinpol também denunciou a retaliação do governo. “Estamos há cinco meses sem repasse ao sindicato. Algo completamente ilegal, pois é a contribuição dos servidores. Querem acabar com a nossa luta”, afirmou.
A entrevista coletiva contou com a presença dos seguintes veículos: TV Ponta Negra, TV Universitária (TVU), TV Tropical, SimTV, TV Assembleia; Tribuna do Norte, Jornal de Hoje; Portal no Ar.