Na mesma semana em que seis transplantados do RJ testaram positivo para HIV após receberem órgãos infectados, no município de Parelhas/RN, oito pacientes precisaram retirar o globo ocular após infecção bacteriana. O que os dois casos têm em comum? A tragédia anunciada que é a terceirização de serviços, principalmente, quando falamos de procedimentos essenciais que podem comprometer a saúde e a vida das pessoas.
Ao todo, em dois dias de mutirão, 48 pessoas foram cirurgiadas. Segundo a investigação do caso, das 20 pessoas operadas no primeiro dia pelo menos 15 tiveram endoftalmite, uma infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloaca, após serem atendidas. O mutirão para realização de cirurgias de catarata foi comandado pela empresa privada Oculare Oftalmologia Avançada, contratada pela prefeitura de Parelhas. Esse caso é mais um que deve servir de alerta sobre os limites e responsabilidades da terceirização na saúde.
Infelizmente, oito pessoas acometidas pela infecção precisaram retirar o globo ocular afetado pela infecção e agora lidam com a dificuldade da perda de visão de um dos olhos e o medo constante da infecção se espalhar e acabar atingindo órgãos vitais como o cérebro. O restante dos pacientes que foram acometidos pela bactéria, mas não precisaram realizar a retirada do globo, temem que uma hora isso acabe acontecendo e a investigação segue apurando se as pessoas que foram operadas no segundo dia não apresentam sintomas ou queixas de infeção. De um modo ou de outro, a apreensão de perder a visão é uma companheira constante para as vítimas, seus familiares e para todas as pessoas que realizaram as cirurgias neste período.
O Sindsaúde/RN lamenta profundamente as consequências desastrosas ocasionadas por essas cirurgias que tinham o intuito de devolver qualidade de vida a esses pacientes. Também é preciso registrar o repúdio à prefeitura de Parelhas que apenas emitiu um comunicado oficial escrito quando na verdade é necessário uma postura de investigar as responsabilidades dos profissionais e instituições envolvidas, além de verificar as condições técnicas e sanitárias em que os procedimentos ocorreram.
Entregar um serviço de saúde na mão de empresas, muitas vezes movidas por interesses financeiros, no lugar de contratar entidades públicas especializadas, é uma irresponsabilidade das gestões municipais e estaduais que ainda vai custar muitas vidas. Mais do que nunca, é preciso lutar em defesa de um sistema de saúde que seja PÚBLICO, UNIVERSAL E 100% ESTATAL.