Vamos imaginar a seguinte situação: você sonha em ter e proporcionar uma vida melhor para as pessoas que ama. Deseja ter estabilidade financeira, boas condições de trabalho, aposentadoria digna e direitos trabalhistas garantidos. Tudo que você almeja se encontra em um único caminho: o funcionalismo público. Para conquistar tudo isso, você estuda, abdica de horas de sono e lazer e se sacrifica em prol do seu objetivo. Com muito esforço você consegue, mas aí vem uma grande decepção. Você simplesmente NUNCA É CONVOCADO(A).
Parece roteiro de filme de drama, mas essa é a realidade de 3.173 servidores da saúde aprovados no concurso de 2018 que ainda não tiveram a chance de iniciar sua caminhada nas unidades de saúde do estado. Em paralelo ao desânimo e revolta destes profissionais, está um sistema de saúde precarizado, sobrecarregado e que precisa muito de um reforço na mão de obra. Por que, então, o governo Fátima Bezerra (PT) insiste em colaborar com o não fechamento desta conta? Para nós, do Sindsaúde/RN, a resposta é clara: deve ser muito mais vantajoso manter contratos temporários, considerando os salários rebaixados e a fragilidade do vínculo empregatício.
Em todo esse tempo de luta, o Sindsaúde/RN sempre defendeu a substituição de todos os contratos temporários por profissionais do cadastro de reserva. Há muito tempo se denuncia, inclusive, que o Ministério Público do Trabalho e do Tribunal de Contas do estado legitimam o prorrogamento desses contratos de forma inconstitucional. Registramos também a presença de 546 Enfermeiros, 215 Fisioterapeutas, 76 Farmacêuticos e 98 Bioquímicos trabalhando em contratos temporários enquanto há uma lista imensa de profissionais disponíveis na rede que ainda não foram convocados.
Porém, apesar das sérias e constantes cobranças,a pauta é um grande desafio e as unidades de saúde seguem sofrendo com falta de RH. No Hospital Dr. José Pedro Bezerra, por exemplo, só existem sete fonoaudiólogas, sendo que três delas estão afastadas no momento. As quatro restantes estão distribuídas no setor ‘canguru”, UTI, alojamento conjunto e UTI. Ou seja, por serem setores que exigem acompanhamento todos os dias, quando uma profissional precisa se ausentar acaba sobrecarregando o serviço e as colegas de plantão. Na avaliação do Sindsaúde/RN, que acompanha a rotina na unidade, o quadro de fonoaudiologia do Santa Catarina deveria ser expandido urgentemente. De acordo com fontes da própria categoria, no estado, foram aprovados 94 fonoaudiólogos (as) no total, 20 foram convocados e 74 seguem aguardando no Cadastro de Reserva.
Na categoria do Serviço Social, embora tenha havido 149 convocações no estado, é sabido que o quadro funcional segue insuficiente e é mais que urgente a convocação das 236 profissionais restantes. “A espera é angustiante, porque temos colegas desempregados ou com vínculos fragilizados aguardando essa chamada” lamenta Ana Lígia, assistente social que era do cadastro de reserva e hoje trabalha no Hospital Regional Alfredo Mesquita Filho. Por outro lado, muitas assistentes sociais como Ana Lígia sofrem sobrecarregadas em seus locais de trabalho por absorver toda a demanda que deveria ser distribuída entre mais profissionais.
Essa é a primeira denúncia de uma série de reportagens sobre os desafios do cadastro de reserva de 2018. O Sindsaúde/RN segue firme na cobrança dessas convocações em toda mesa de negociação com o governo e na defesa de um Sistema Único de Saúde eficiente, justo e digno. Nossa luta é por cada profissional que só quer ter o direito de trabalhar. Nossa luta é pela saúde do Rio Grande do Norte e pelo funcionalismo público. Respeitar os concursados da saúde é respeitar o SUS. Não nos calaremos!