O dia 25 de julho é, anualmente, utilizado para comemorar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data, que teve origem em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, homenageia e visibiliza a luta e a resistência das mulheres negras em todo planeta. No Brasil, por sua vez, o marco também faz alusão à trajetória de Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza”, que viveu no século XVIII, no Vale do Guaporé (MT), e liderou o Quilombo de Quariterê.
O dia de hoje, assim como todos os outros desde a sua criação, tem pouquíssimos motivos para se celebrar. Isso porque, demonstrando o quanto a luta das mulheres negras no Brasil está longe do fim, uma pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) mostrou que a cada 10 lares chefiados por mulheres ou por pessoas negras, 6 têm algum tipo de restrição de acesso a alimentos. Além disso, segundo um levantamento da Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade, as mulheres negras foram o segmento da sociedade que mais morreu de Covid-19 em 2020.
Durante a pandemia, também foram elas que mais perderam parte significativa de sua renda e, compondo a base da pirâmide socioeconômica do país, as mulheres negras costumam receber apenas 46,6% da remuneração de homens não negros, de acordo com a PNAD Contínua do 2º trimestre de 2021, do IBGE. A fome, no entanto, é só mais um dentre os vários problemas. As mulheres negras representam, ainda hoje, as mais afetadas pelo feminicídio, pelas violências doméstica e obstétrica e pela mortalidade materna. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que produz o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, das 1.341 mulheres vítimas de feminicídio em 2021, 62% são negras e nas demais mortes violentas intencionais, 70,7% são negras e apenas 28,6% são brancas.
O Sindsaúde/RN, como entidade da classe trabalhadora construída principalmente por mulheres, enxerga o dia 25 de julho como uma oportunidade de trazer visibilidade à luta das mulheres negras em defesa de direitos e contra a opressão de gênero, a exploração capitalista e o racismo. Além disso, considerando que 2022 é um ano eleitoral e decisivo, reiteramos a importância de priorizar a escolha por representantes que, acima de tudo, sejam mulheres, negras e comprometidas com o desenvolvimento de políticas antirracistas e de combate ao machismo estrutural. Vivemos anos dessa política misógina e racista, e com isso, nos deparamos todos os dias com o discurso de ódio desses representantes se materializando nas estatísticas que nos destroem e assolam nosso país. É preciso construir um Brasil e um mundo mais seguro para mulheres negras, pois como disse Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
Autor: Francisca Pires