O Técnico em Radiologia é o profissional responsável por promover exames radiográficos tradicionais, além de preparar o paciente para os demais exames nos serviços de radiologia e diagnóstico por imagem. Apesar de ser uma área relativamente nova, tornou-se um dos ramos da medicina que mais evolui, pois é de suma importância para o diagnóstico e tratamento de doenças, além de ser um método que não causa dor e nem dano ao paciente. Diante dos fatos, a importância da profissão torna-se indiscutível, certo? Errado. O dia-a-dia destes profissionais nos hospitais do Rio Grande do Norte, por exemplo, reflete o quanto a categoria é desvalorizada e o quanto a luta por melhores condições de trabalho é necessária.
Mais precisamente desde 2020, tanto a Direção quanto a Assessoria Jurídica do Sindsaúde/RN lutou de forma muito próxima e incansável nas Mesas de Negociações do SUS para reivindicar as pautas da categoria. Foram pautas dos debates: a reestruturação do PCCR, a questão do Piso Nacional da categoria que o Estado paga apenas para quem recorreu à justiça, férias de vinte dias duas vezes por ano e pagamento da produtividade pelos dez dias restantes que eles trabalham. Além disso, hoje, o terço de férias é pago em cima só dos vinte dias de férias e não o mês todo como era anteriormente, o pagamento de 40% de insalubridade mesmo após o fim da pandemia, a devolução de descontos cobrados erroneamente pela gestão Estadual e, por fim, a pauta mais recente que diz respeito a sobrecarga de trabalho destes profissionais devido a não convocação dos aprovados no último concurso. “Buscamos incansavelmente a valorização dos Técnicos em Radiologia que há muito tempo vem sofrendo ataques e o Governo do Estado não colabora”, lamenta Breno Abbott, diretor do Sindsaúde/RN.
Caminhar na corda bamba entre a radiação e a desvalorização faz parte do cotidiano do servidor Carlos Mendes, por exemplo. Técnico em Radiologia desde 2009, Carlos hoje trabalha no Hospital Giselda Trigueiro e é dono de uma história que reflete o quanto a desvalorização profissional pode afetar a vida de um trabalhador. Em 2017, Carlos foi diagnosticado com um câncer no tornozelo, provavelmente, resultado da falta de monitoramento de radiação presente no local na qual trabalhava, “Infelizmente, passamos vários meses sem dosímetros, equipamento primordial que faz a leitura mensal das doses de radiação que o trabalhador pode receber durante um mês”, relata Carlos.
Após descobrir a lesão maligna, o trabalhador teve que correr por conta própria atrás do tratamento. Carlos conta que foram várias sessões de Quimioterapia e Radioterapia até receber a triste notícia de que seria preciso fazer a amputação da sua perna. “Passei praticamente dois anos afastado das minhas atividades, sofri uma pressão psicológica gigante ao ter que lidar com uma nova vida a partir daquele momento, lutando por um recomeço”, desabafa.
A luta por direitos não é de hoje. Os Técnicos em Radiologia compõem uma categoria que tem Piso Nacional, Lei Federal, Conselho Nacional e Sindicato. Graças à incansável corrida pelo justo, já somam várias causas ganhas sobre os vencimentos e outros direitos adquiridos. Ainda assim, enfatiza o servidor, a categoria não é reconhecida pelo Governo do Estado, “Somos obrigados a entrar judicialmente para que sejam implantadas as causas ganhas, batendo na tecla da jurisprudência”.
Carlos é um servidor muito presente no movimento sindical e junto a outros colegas, sempre participa das reuniões da mesa SUS e na Sesap. Na mais recente, dia 21 de outubro, mais uma vez os servidores só ouviram promessas. “O Governo nunca consegue chegar a um acordo e sempre tem que ser do jeito que eles querem, nunca existe um meio termo, estamos mostrando nossos direitos mas não adianta, não querem nos incluir nesse novo PCCR!” finaliza. Em uma das reuniões foi comprovado pelos trabalhadores, através das escalas disponíveis, que estão faltando profissionais para tocar alguns serviços e a resposta do Governo foi, como de costume, “Estamos aguardando o posicionamento da PGE!”. Quando esse posicionamento virá? Não sabemos.
O Sindsaúde/RN luta hoje, junto aos sempre participativos servidores, por uma convocação dos Técnicos em Radiologia que estão na ponta da agulha do último concurso. Estamos falando de aproximadamente 40 profissionais. Prova do descaso e indiferença do Governo Fátima Bezerra (PT) que tanto se orgulhava de “ser de origem popular” e “estar do lado dos trabalhadores”, é a forma com que a gestão encara os problemas apresentados pelos servidores. Não bastasse não ter respostas concretas para dar à categoria, o próprio Carlos já foi obrigado a ouvir, em uma reunião, que “Ganhar mais não vai trazer sua perna de volta!”. De fato, um aumento salarial não reverteria o passado, mas garantiria uma melhor qualidade de vida para ele, visto que por irresponsabilidade do Estado ele acabou tendo sua rotina mudada por completa e precisou se refazer diante dessa adversidade. Ganhar mais pode não trazer sua perna de volta, mas garante o sustento e um futuro melhor para o filho do Carlos que vê seu pai sendo chamado de herói na televisão, mas tratado com desdém na vida real.
Carlos Mendes é um trabalhador. Um pai, esposo, filho, que teve sua vida virada de cabeça para baixo por causa da negligência do Estado e do sucateamento do Serviço Público. A perda da sua perna pode não ter acontecido durante esta gestão, mas é doloroso ver o ciclo de desvalorização se repetir em meio a um Governo que se diz popular. Físico e Psicologicamente esgotado, com salário estagnado e sem a garantia dos seus principais direitos, Carlos segue como tantos outros pais de família que estão na mesma situação. “Na Pandemia, éramos todos Heróis. Estávamos na linha de frente, lidando com pessoas morrendo todos os dias. Reconhecimento? Somente da boca pra fora!” finaliza.
Não é favor, é direito! Pela vida dos Técnicos em Radiologia e de todos os outros Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte. Agora é greve!