No fim de setembro, a governadora Fátima Bezerra (PT) organizou uma solenidade no Centro Administrativo, em Natal, para fazer um balanço de mil dias da gestão estadual do Rio Grande do Norte. Com o slogan "Não é milagre, é gestão", a governadora lista por tópicos seus feitos, mas esquece de mencionar o porquê a situação dos servidores da saúde do Estado suplica por um verdadeiro milagre.
A categoria da saúde segue sem reajuste salarial há mais de uma década. O que parece aumentar a cada dia para estes trabalhadores é a rotina exaustiva regada a sobrecarga de trabalho, insalubridade nas unidades, falta de insumos e assédio moral. Por outro lado, o Governo reajustou mais de uma vez, o salário dos servidores que já recebem acima de 20 mil reais, desrespeitando mais uma vez o princípio da isonomia no serviço público.
Para começo de conversa, a política de fechamento de hospitais além de demonstrar o descaso com a saúde pública virou projeto também de Fatima Bezerra. No meio deste desmonte, o Hospital de Canguaretama foi fechado em julho de 2019 e no início de 2020 foi a vez do Ruy Pereira, hospital especializado em doenças vasculares que teve seus mais de 100 leitos reduzidos somente para 30 leitos, que hoje funcionam no Hospital da Polícia, deixando assim a população mal assistida e as outras unidades superlotadas. A gestão tinha outras prioridades, governadora?
Não foi citado no balanço da gestão, mas iremos relembrar aqui também o quanto foi preciso lutar para que os “heróis” recebessem os EPI 's indispensáveis ao trabalho em pleno auge da pandemia. Relatos dos servidores denunciavam a falta de diversos insumos, medicamentos e equipamentos nas unidades. Em março de 2020 o Sindsaúde/RN enviou um ofício à Sesap solicitando EPI 's implantação da insalubridade. O Governo Estadual além de não garantir a segurança nem mesmo daqueles que estão na linha de frente do combate ao vírus, também não convocou os aprovados do cadastro reserva do último concurso da saúde para suprir a alta demanda provocada pela pandemia. Mais do que nunca os servidores da saúde do estado foram levados ao extremo e do tratamento de herói só receberam homenagens nas redes sociais.
A terceirização dos serviços é outro problema grave. 80% das unidades de saúde de Natal funcionam com a distribuição de quentinhas, por exemplo. Sendo assim, além de muitas vezes essas empresas serem trocadas e demorarem a conseguir atender todas demandas, ainda há o problema da falta de pagamento e quem sofre diretamente com as paralisações pela busca de direitos, ainda que legítimas, são os funcionários e pacientes do Hospital.O Sindsaúde, por várias vezes, noticiou casos de comida estragada, com bichos, com parafuso e até mesmo o não fornecimento de alimentação para servidores que dão plantões longos e exaustivos.
Mas, a comida não é a única afetada pela precarização proveniente da terceirização dos serviços. Todos os meses, noticiamos por aqui o quanto os trabalhadores terceirizados que prestam serviços como maqueiros, higienização e limpeza enfrentam um verdadeiro pesadelo para terem seus direitos respeitados e garantidos. Ver funcionários com até quatro férias atrasadas, vale transporte e salários atrasados, trabalhando em péssimas condições, sem data certa para receber seus proventos, sendo assim castigados pela empresa e pela Secretaria de Saúde do RN, virou rotina. Mil dias de governo não foram suficientes para resolver a questão?
“O governo é de origem popular, por que vocês não tentam negociar?”. Mas, nós tentamos. Pena que a governadora fundou o comitê de negociações e esqueceu para que ele serve. Agora não só pararam de acontecer as reuniões mensais, como quando acontece os servidores são informados sobre o calendário e não há de fato um diálogo que busque um caminho que seja bom para ambos os lados. A falta do contato mensal entre os servidores e o Governo do Estado prejudica muito o andamento das pautas. A negociação do Plano de Cargos e Salários, a implantação da progressão de nível de 2020 e apresentação do relatório final da comissão de produtividade são exemplos de atrasos significativos na luta dos trabalhadores da saúde. Com a segurança do Estado e outras categorias o governo dialoga muito bem, por exemplo. Qual será nosso problema?
Essa pergunta permeia o dia-a-dia de todos os servidores que saem da suas casas dispostos a salvar vidas, mas cientes dos desafios que lhe esperam. Como desabafo, muitos relatam que esperavam mais de um governo popular. No entanto, receberam o mesmo dos outros governos anteriores: desprezo. 'Cenário era de catástrofe', disse a governadora. Será que ERA mesmo? Se sua gestão, finalmente, passar a olhar para as demandas da saúde do Estado, podemos garantir que será perceptível o quanto a situação ainda É muito preocupante.