Desde que o grupo extremista, Talibã, tomou o poder da capital Cabul no Afeganistão, no dia 15 de agosto, o mundo voltou os olhos para o desespero da população afegã que tentava a todo custo fugir do país. As cenas angustiantes filmadas no Aeroporto Internacional de Cabul, onde pessoas se amontoavam nas plataformas de vôo, arriscando e dando suas vidas segurando nas asas do avião - na esperança de conseguir deixar a cidade - resume o caos que se instaurou no país com a retirada das tropas estadunidenses e com o retorno do grupo fundamentalista islâmico ao poder após 20 anos.
A situação fica cada vez pior quando se trata das mulheres e meninas afegãs, que temem perder os direitos sociais e econômicos conquistados nas duas últimas décadas. Isso porque, quando esteve no poder entre 1996 e 2001, o Talibã proibiu as mulheres de trabalharem e estudarem, de sair de casa desacompanhadas, e também as obrigou a cobrir todo o corpo. A semelhança das antigas regras com o que já está acontecendo no país assusta, e tira a esperança de milhares de mulheres que estão sendo obrigadas a abrir mão de suas vidas e do futuro.
Com essa situação, muitos acreditam que seria melhor os Estados Unidos não terem deixado o país, já que “salvaram” as mulheres das mãos de bárbaros opressores. Mas na verdade, o grande responsável pela dramática situação das mulheres no país asiático, que constituem metade da população de quase 39 milhões, é o próprio imperialismo estadunidense que junto com a Arábia Saudita e o Paquistão financiou escolas religiosas fundamentalistas neste último país – em que se “educaram” os talebans [estudantes] – quanto dos denominados “senhores da guerra” para que lutassem contra a União Soviética (URSS), a qual invadiu o país em 1979 para tentar barrar efeito dominó após a revolução no país vizinho, Irã, no mesmo ano.
Embora o grupo insista em afirmar que sua nova era no comando será mais moderada, os líderes do Talibã se recusam a garantir que os direitos das mulheres não serão retirados. Inclusive, muitas já enfrentaram violência no país. Logo na primeira semana após a volta do Talibã, já foi possível observar mudanças significativas na capital Cabul, como por exemplo, o fato de não haver mais apresentadoras mulheres na TV, de acordo com a BBC Monitoring.
O grupo extremista também recomendou às mulheres não saírem de casa neste momento, ou caso necessitem, precisam usar burca e estarem acompanhadas de um homem. Segundo o próprio porta-voz do Talibã, Zabiullah Mujahid, essas recomendações são necessárias para garantir a segurança das mulheres. Ele admitiu que a medida era necessária porque os soldados do Talibã “sempre mudam e não são treinados”. Fotos nas redes sociais mostram que vitrines com imagens de mulheres sem véu, maquiadas e com vestidos de festa estavam sendo arrancadas ou cobertas de tinta.