A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 entrou em seu quinto mês de investigações na última semana e o foco das investigações se concentra nos contratos da empresa VTCLog com o Ministério da Saúde, que apontam um grande esquema de propina e superfaturamento.
A operadora logística responsável pelo armazenamento e transporte de medicações no Brasil, incluindo vacinas, entrou na mira do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), após o órgão fiscalizador levantar suspeitas sobre movimentações financeiras atípicas que somam R$ 117 milhões, nos últimos dois anos.
Peça chave das investigações, o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva teria realizado saques que contabilizariam R$ 4,7 milhões. Funcionário da VTCLog, Ivanildo realizou a maior parte das retiradas na boca do caixa e em dinheiro vivo. A prática é comum no pagamento de propinas.
O motoboy também pagou boletos do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, que foi exonerado em junho, após as denúncias de que ele teria pedido propina de 1 dólar para cada dose de vacina AstraZeneca (R$ 400 milhões no total).
Ouvido pela CPI, o motoboy Ivanildo afirmou que visitou frequentemente o Ministério da Saúde no último ano para “entregar faturas”. Por se recusar fornecer seu aparelho celular, Ivanildo teve o dispositivo confiscado para investigação, bem como os sigilos bancário e telefônico quebrados.
“Mensalinho”
As suspeitas sobre o ex-diretor de logísticas Roberto Dias surgiram após os depoimentos do deputado Luís Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Os dois disseram haver um esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin e que Dias pressionava pela assinatura do acordo.
Dias também é suspeito de operar um esquema de pagamento de propinas a deputados do chamado “centrão”, uma espécie de mensalinho. No acordo, a VTCLog se comprometeria a desviar 10% do valor dos contratos com o governo para pagamento da propina, que poderia render até R$ 990 mil aos envolvidos.
Dias chegou a ser preso em julho, após mentir durante seu depoimento na CPI, no Senado.
Participação direta dos Bolsonaro
A crise envolve diretamente a família Bolsonaro. O lobista da Precisa Medicamentos Marconni Farias, investigado por intermediar a venda das vacinas superfaturadas da Covaxin, é amigo de Renan Bolsonaro, quarto filho do Presidente da República. Juntos, eles inauguraram uma empresa de eventos em Brasília.
A CPI tinha se programado para ouvir o depoimento de Farias no dia 2, mas ele não apareceu. Na quinta-feira (2), a ministra Cármen Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), negou um pedido para que o advogado não precisasse depor aos senadores. A expectativa é que ela possa ser ouvido depois do feriado.
O negócio do Planalto com a Covaxin que poderia pagar até R$ 1 bilhão acima do preço de mercado foi desfeito sob as suspeitas de irregularidades.
Reta final
A CPI da covid-19 já vive seus últimos momentos. O relator Renan Calheiros (MDB) pretende entregar o relatório final da comissão na segunda quinzena de setembro. Nesta semana, o empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, responderá as perguntas dos parlamentares sobre um possível financiamento ao chamado “tratamento precoce”.
Desde o início das investigações inúmeras irregularidades foram apontadas, entre elas estão o gabinete paralelo do governo Bolsonaro, que atuou para mudar a bula do remédio cloroquina, e a demora do presidente em dar início a compra das vacinas da Pfizer e outros imunizantes, acarretando mais mortes pela doença.
Um estudo da Universidade de São Paulo apresentado na CPI também apontou a aposta de Bolsonaro na chamada imunidade de rebanho, que potencializou ainda mais as mortes na pandemia. A comissão também apontou para a omissão do governo frente à crise da falta de oxigênio para pacientes com covid-19 em Manaus.
Os fatos apontam que a política genocida do governo de Bolsonaro que já resultou na morte de quase 600 mil brasileiros(as) também foi acompanhada de muita corrupção. Esse governo de ultradireita precisa ser detido já, bem como todos os corruptos irem para a cadeia e terem os bens confiscados.