Desde o início da pandemia as desigualdades e injustiças inerentes ao sistema capitalista ficaram ainda mais evidentes. O surgimento da variante Delta trouxe uma nova situação: enquanto os países desenvolvidos se preparam para aplicar a terceira dose das vacinas, grande parte das nações pobres ainda dão os primeiros passos na imunização.
Levantamento do jornal O Globo apontou que apenas 2% da população dos 27 países mais pobres (aproximadamente 650 milhões de pessoas) teve acesso à primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Ao todo, este grupo formado em sua maioria por países africanos corresponde a somente 0,3% do total de doses já ministradas em todo o mundo.
Enquanto isso, uma cepa mais transmissível, a Delta, põe em xeque o fim da pandemia. De rápida transmissão na Europa e nos Estados Unidos, a variante fez com que os governos imperialistas iniciassem os planos para uma terceira dose. Se no início da crise, máscaras e respiradores eram retidos, o mesmo ocorre agora com as vacinas.
Atendendo a critérios diferentes, mas privilegiando os mais idosos e portadores de comorbidades, países como Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos devem iniciar o “reforço” vacinal em setembro. O Brasil, segundo país mais afetado pela pandemia, deverá seguir o mesmo calendário. 10 estados já planejam a terceira dose em setembro.
Desigualdade
Na Europa, a cada 100 adultos, 67 já foram vacinados com ao menos uma dose. Já no continente africano, apenas 4 a cada 100 iniciaram a imunização.
O cenário deve permanecer, visto que a União Europeia já tem acordo para mais 1,8 bilhão de doses para os anos de 2022 e 2023. As doses que sobram na Europa são as que irão faltar nos países pobres.
Mesmo na América do Sul, a desigualdade persiste. Enquanto o Uruguai possui 70% da população totalmente vacinada e o Chile já ultrapassou o índice de 50%, na Venezuela, apenas 11% da população recebeu a imunização completa. No Brasil, este índice é de 28%, muito aquém dos 60% necessários para ter um maior controle da pandemia.
Balcão de negócios
Embora seja um problema global, a abordagem dos países para conter o avanço da Covid-19 continua seguindo interesses nacionais, poderio econômico e atuação no mercado. Os países desenvolvidos promovem um verdadeiro bazar das vacinas, enquanto o terceiro mundo depende das doações do consórcio organizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Ao enxergar a crise sanitária como uma oportunidade de fazer dinheiro, os governos e as grandes farmacêuticas podem estender a crise sanitária por mais alguns anos. Com o vírus circulando livremente nos países pobres, é questão de tempo até que uma nova mutação crie uma cepa ainda mais resistente.
Além disso, novas variantes virais podem comprometer todo o avanço já conquistado, uma vez que poderão conter mecanismos que “driblem” a resposta imune produzida pelas vacinas. Este é o caso da variante Delta que, segundo estudos iniciais, provoca uma diminuição na porcentagem de eficácia da maior parte das vacinas disponíveis.
Quebra de patentes é insuficiente
Defendida pela OMS, a quebra de patentes dos imunizantes seria um grande passo para reduzir a desigualdade na distribuição e acesso aos medicamentos. Com o fim dos direitos comerciais e das restrições ao processo de fabricação, um número maior de países poderiam desenvolver suas próprias vacinas.
No entanto, no caso do grupo dos países mais pobres o fim das patentes não é o suficiente. Muitos deles vivem em condições tão precárias e que sequer há estrutura para transportar ou armazenar as doses. Além disso, até mesmo o fornecimento de água e energia elétrica é comprometido nessas localidades.
Neste sentido, a única solução passaria por um esforço mundial, com doação de vacinas e equipamento necessário para fazer chegar às pessoas os imunizantes. A OMS tem defendido que os países ricos não apliquem uma terceira dose, até que ao menos 10% da população dos países pobres tenha acesso à vacinação.
Autor: CSP- CONLUTAS