Não é só a compra da vacina Covaxin pelo governo de Bolsonaro que está sob investigação por suspeitas de corrupção. Neste final de semana, veio à tona que a negociação para a compra de outro imunizante, a vacina Convidencia, produzida pelo laboratório chinês CanSino, também está na mira da CPI da Covid.
A comissão vai investigar a tentativa do governo em comprar 60 milhões de doses da vacina Convidencia, através de mais uma empresa intermediária, a Becher Farmacêutica do Brasil, que também é investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por fraude. O valor da dose sairia por 17 dólares, ainda mais caro que a Covaxin, que até então era a de maior valor (US$ 15, valor 1.000% acima dos demais imunizantes).
A carta de intenção de compra foi assinada no dia 4 de junho, mas a venda não foi concluída, porque a fabricante chinesa CanSino revogou a autorização para que a Becher a representasse no Brasil, após saber das suspeitas de fraude envolvendo a empresa. A Becher é investigada com suspeita de fazer parte de um esquema que superfaturou testes de coronavírus adquiridos pelo governo do Distrito Federal.
Em nota o Ministério da Saúde comunicou à imprensa que as negociações que estavam em andamento foram canceladas depois que a Anvisa informou que a CanSino não era mais representada pela Becher. Só não explicou porque, novamente, uma empresa investigada foi escolhida como intermediadora.
O “dedo” de Ricardo Barros e empresários bolsonaristas
Neste caso da vacina Convidencia, estão envolvidos o líder do governo Bolsonaro, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), e os empresários bolsonaristas Luciano Hang, dono da Havan, e Carlos Wizard.
Os empresários fizeram lobby a favor da vacina e da aquisição através da Becher Farmacêutica. Em março, Hang e Wizard chegaram a fazer uma live com um dos sócios da empresa.
Já Ricardo Barros também tem ligação com sócios da Becher. Um dos sócios da empresa, Daniel Moleirinho Feio Ribeiro é filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, que, entre os anos 1980 e 1990, foi presidente da empresa de urbanização de Maringá, Urbamar, durante a gestão de Ricardo Barros como prefeito da cidade.
Governo queria propina e não vacina
As denúncias envolvendo a negociação de vacinas pelo governo de Bolsonaro e Mourão apontam para um esquema repugnante. Enquanto o governo agiu com negacionismo desde o início da pandemia, boicotando a aquisição de vacinas no ano passado, divulgando inclusive fake news contra os imunizantes, paralelamente agiu para superfaturar e cobrar propinas em alguns casos, usando empresas intermediárias, como a Precisa Medicamentos e a Becher Farmacêutica.
Além da investigação conduzida pelo Ministério Público Federal apontar que suspeitamente o processo de aquisição da Covaxin foi o mais célere entre todos, apesar de ter rejeitado por vários meses a negociação com os laboratórios da Pfizer e a CoronaVac; que a vacina foi negociada por um valor 1.000% maior; houve ainda pressões políticas para favorecer a Precisa Medicamentos, apesar de várias irregularidades.
Na última sexta-feira (25), o funcionário público Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), afirmou que três de seus superiores no Ministério da Saúde exerceram pressão para o pagamento antecipado de US$ 45 milhões – R$ 221 milhões –, para a importação de doses pela Precisa e uma offshore em Cingapura.
Ambos levaram o caso para Bolsonaro. Segundo o deputado Luis Miranda, Bolsonaro disse que o caso teria participação de seu líder na Câmara, Ricardo Barros. Entretanto, nada fez para denunciar o caso, o que configura o crime de prevaricação. Ao contrário, há registros de que Bolsonaro atuou pessoalmente junto ao governo indiano em relação à Covaxin, postura totalmente diferente em relação aos demais imunizantes. Além disso, dias depois da denúncia feita pelos irmãos Mirando, a esposa de Ricardo Barros foi nomeada para o Conselho de Administração de Itaipu, com um salário de R$ 27 mil.
Fora Bolsonaro e Mourão, já! Dia 3 de julho vamos às ruas!
“O Brasil tem mais de 513 mil mortos pela Covid em razão da política genocida de Bolsonaro e porque não foram compradas vacinas a tempo. Mas agora estamos sabendo que o governo não queria vacina, porque queria propina. Repugnante! É preciso intensificar a luta para dar fim a esse governo genocida e corrupto”, afirma o integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Luiz Carlos Prates, o Mancha.
“Com o agravamento da crise política e a confirmação que esse governo, além da política genocida, seguirá com esquemas de corrupção, as organizações anteciparam o calendário de lutas pelo Fora Bolsonaro com o terceiro grande dia nacional de lutas para o próximo sábado, dia 3 de julho. Vamos tomar as ruas até derrubar esses genocidas e corruptos”, afirmou.
Via: http://cspconlutas.org.br/2021/06/genocidio-e-corrupcao-negociacao-do-governo-bolsonaro-com-vacina-da-cansino-tambem-esta-sob-suspeita/