A terceira história que buscaremos honrar por meio desta série de reportagens pertence a Maria de Lourdes Gonçalves dos Santos Soares. Técnica de Enfermagem do Hospital Regional Dr. Mariano Coelho, Lourdinha- como é carinhosamente conhecida- conta que a enfermagem entrou na sua vida por acaso, ou melhor, por intervenção divina como ela gosta de acreditar. Filha de agricultores, nove irmãos, a servidora viveu na pele a fome, a falta de moradia e muitas outras mazelas sociais.
Já adulta, enquanto era voluntária na pastoral da criança de uma igreja, Lourdinha conquistou uma vaga para agente comunitário de saúde e em seguida mais uma vaga para técnica em enfermagem. “Não foi fácil subir esses degraus. Nascida e criada num pequeno interior, fui para a capital do Estado em 2006 e foi na capital que começaria minha descoberta tanto pela arte do cuidar, como também da parte dura de assistir cenas inimagináveis. Mesmo com doze anos de profissão não tenho receita, nem pretendo, para evitar a dor e o choro ao enfrentar o processo da morte de um paciente por mim assistido.” afirma com convicção.
Sobre ser vista como uma heroína, Lourdinha afirma que apesar de muitos olharem para os profissionais da saúde como se eles fossem pedras, na verdade eles são humanos. Cuidam, se entregam e também dividem a dor da perda por cada paciente que cruza seus caminhos. A pandemia, por exemplo, veio como um furacão na vida da servidora. Ela conta que chegou a ver amigos de longa data a evitando por ser da área da saúde. “Nunca me esqueço de uma cena, fui em um mercadinho uma vez e o dono teve medo de pegar no meu cartão” conta Maria em um tom ora divertido ora envergonhado.
Sobre o momento mais difícil, Lourdinha relembra com muita dor. “Passei o vírus da Covid-19 para meu filho de 2 aninhos e meu esposo que é hipertenso" lamenta. A servidora alerta que isso aconteceu justamente porque ela não apresentou sintomas, o marido e o filho, infelizmente, não tiveram a mesma sorte e desenvolveram os sintomas. “Nesse momento uma angústia tomou conta de mim, senti-me arrependida de ter entre duas profissões, enfermagem e magistério, escolhido a enfermagem” revela.
Apesar do misto de sentimentos: orgulho da profissão, mas culpa por se expor e expor seus familiares aos perigos, Maria de Lourdes se define como uma mulher muito feliz por viver a arte do cuidar. “Peço a Deus que tudo isso passe, não somos heróis e heroínas, somos seres humanos que sentimos medo, mas estamos ali, engolindo o choro e arregaçando as mangas dia após dia com fé e esperança que dias melhores virão!!” finaliza.
De fato, tudo seria diferente se nossa forte personagem tivesse escolhido outro caminho, mas é na enfermagem que Lourdinha se doa ao próximo com zelo, compromisso e humanização! Que sorte a nossa de poder contar com profissionais como você, Maria. Obrigado! A saúde pública é cada dia um pouco melhor por sua causa, parabéns pela semana.