Ao longo desta semana, dedicada a evidenciar a importância dos trabalhadores da enfermagem para saúde, o Sindsaúde/RN irá homenagear esta categoria por meio de algumas reportagens sobre a trajetória de alguns servidores da saúde. Nosso objetivo é humanizar estes trabalhadores o máximo possível e exaltar seu trabalho imprescindível nas unidades de atendimento. Aqui não contaremos histórias de heróis, mas sim, de pessoas de carne e osso que dedicam sua vida a salvar outras vidas.
Nossa primeira personagem se chama Magna Moura, técnica em enfermagem há quatorze anos. Atualmente, a servidora atua na assistência de pacientes graves em uma UTI. Magna generosamente nos cedeu um emocionante relato que mostra o quanto a vida como técnica, desde o início, nunca foi fácil.
“Temos a todo instante que abdicar de nossas vidas para cuidar da vida de pessoas que nem sabemos quem são, mas que é amor da vida de alguém.”, declara. Levando em conta o compromisso que tem com a vida, por muitas vezes, Magna deixou de participar do crescimento da sua filha.
-Mãe, você vai me ver tocar hoje?
-Não, hoje não dá filha, mamãe está de plantão.
Quantas vezes esse diálogo se repetiu… A vida da filha de Magna, assim como a dos filhos de vários outros profissionais da saúde, foi marcada pela incerteza de contar com a presença da mãe nos Natais, Anos Novos, Dias das mães. “Nunca foi fácil, o tempo passa, mas a rotina segue nos exigindo muito” desabafa.
As inúmeras noites sem dormir e os problemas de saúde decorrentes do excesso de trabalho, ilustram a cruel rotina de Magna e evidenciam um problema social latente que, infelizmente, não é só dela. Mãe solo, para ter as condições mínimas de garantir o sustento de sua filha, a técnica precisou assumir duas escalas de trabalho, ambas muito cansativas, sobretudo por serem em ambiente hospitalar, onde todos os dias, Magna vê pessoas nascerem e morrerem diante de seus olhos.
“Sou muito apegada aos meus pacientes, as perdas sempre me abalam profundamente. Quando junta com a exaustão dos dias trabalhados e a saudade dos familiares, fica ainda mais difícil de aguentar”.
A Covid-19 surgiu como mais um complicador de toda essa história. Como profissional de saúde da linha de frente, Magna tem, de forma muito recorrente, contato direto com o vírus, precisando assim, se afastar cada vez mais da família.Sentada em uma cadeira longe de casa, Magna vê do outro lado sua filha junto com sua mãe. Sem poder tocar, abraçar, dar um beijo para matar a saudade, vê-las de longe foi só o que Magna pode fazer em uma das visitas de sua filha à capital potiguar.
“Como é caro o preço de ser da enfermagem… mas, eu sigo na luta pelos meus e pelos seus, pedindo proteção a Deus e que possamos, em breve, estarmos todos juntos novamente. Desejo também que tenhamos o reconhecimento merecido por parte das autoridades e que passe a não ser mais necessário tirar mais de uma escala de trabalho para viver com mínimo de dignidade.” finaliza com a voz embargada.
É Magna, sentimos na sua voz como é caro o preço que se paga por atuar em uma profissão que exige tanto de seus trabalhadores. Sobretudo, como é caro trabalhar arriscando sua vida e ainda ter que lidar com o descaso das autoridades que não oferecem o mínimo de condições de trabalho e existência para trabalhadores e trabalhadoras como você. É Magna, sentimos na sua voz a dor de um relato que é comum a muitos de seus colegas.
Nesta semana da enfermagem, gostaríamos de deixar nosso reconhecimento e agradecimento aos profissionais que como Magna, muitas vezes, abdicam de tempo com os amores de sua vida para garantir que outras pessoas tenham mais tempo nessa vida com os seus próprios amores. Que missão nobre. Que papel importante. Assim como a Magna, desejamos que um dia o reconhecimento devido chegue e que taxar de herói e heroína pare de ser uma desculpa para o descaso e passe a ser a justificativa para as excelentes condições de trabalho que todos vocês terão.
Sua filha tem orgulho de você, Magna. E nós também!
Parabéns pela sua semana. Conte conosco.