Aos 57 anos do golpe de 1964, forjado por setores militares e civis, com apoio internacional, retorna à pauta política a exposição do país a medidas que trazem tristes memórias. Em um período trágico marcado por violações do Estado democrático, as perseguições, prisões, torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conseguiu que o Tribunal Regional Federal da 5ª Região decidisse no último 17 de março que o Exército poderá realizar comemorações alusivas ao golpe militar de 1964, no dia 31 de março.
No mesmo caminho foi o novo ministro da Defesa, o general Walter Souza Braga Netto, que nesta terça-feira (30), assinou e publicou uma "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964", para ser lida em todos os quartéis e instalações militares brasileiras exaltando os anos de chumbo. No documento, o ministro afirma que "se deve celebrar" o que ele chama de "Movimento de 31 de março de 1964", mas que é preciso considerar o contexto geopolítico da época. Na conclusão da nota, o ministro afirma: "O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março."
Em meio à tragédia sanitária da pandemia da Covid-19, que já contabiliza mais de 300 mil mortos e mergulha o Brasil numa crise sem precedentes, o governo Bolsonaro não é apenas um governante com uma política genocida frente à pandemia. O presidente nunca deixou de reafirmar seu apoio e admiração ao golpe e à ditadura militar que perseguiu, prendeu e assassinou opositores políticos. E faz isso, como não poderia deixar de ser, recorrendo à mais absurda reconstrução da história, tentando reerguer mitos como o que a ditadura combateu a corrupção, nos livrou da “ameaça comunista” e trouxe desenvolvimento econômico.
A verdade é que a ditadura militar aprofundou a dependência do Brasil ao imperialismo, aumentou ainda mais a desigualdade social e foi tão ou mais corrupta que os governos anteriores ou subsequentes. O golpe militar que durou 21 anos (1964 - 1985), foi um dos mais longos e violentos do continente, com ao menos 434 mortos e desaparecidos (segundo relatório final da Comissão Nacional da Verdade, em 2014), censura, fechamento de sindicatos e partidos, prisões e exílio. A diferença é que, na ditadura, a imprensa era censurada e ninguém ficava sabendo disso.
Com o agravamento da pandemia em todo o país, e recordes de mortos por covid-19, que se aproximam das 4 mil mortes diárias, o governo Bolsonaro demonstra que não está entre suas prioridades as estratégias para frear o avanço do coronavírus. Muito pelo contrário, o governo insiste em menosprezar a ciência e não investe na vacinação massiva da população. O auxílio emergencial aprovado nesta quarta-feira (31), de R$ 150 a R$ 375, que não cobre metade da cesta básica é a mais pura demonstração que o governo Bolsonaro não se importa com os milhares de brasileiros, especialmente negros, mulheres e LGBTS que sofrem com o aumento desenfreado do desemprego.
Cinquenta e sete anos após o golpe, ainda não se conhece toda a história dos crimes da ditadura, bem como o paradeiro de muitos dos desaparecidos políticos. Por isso, exigimos Verdade, Reparação e Justiça. E a tortura continua sendo prática comum no sistema policial, em especial contra a juventude negra das periferias, contra Amarildos e Cláudias de todo o País. Infelizmente, não basta lutar contra a impunidade. É preciso evitar que a história se repita.
Por tudo isso, o Sindsaúde/RN se manifesta contra qualquer tipo de alusão positiva à ditadura militar. Repudiamos a postura do governo Bolsonaro e seus cúmplices. As constantes ameaças de golpe por parte de Bolsonaro, a crise que se encontra seu governo e a queda dos últimos Ministros, só reforça a necessidade de lutar pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Para nós, a luta pelo Fora Bolsonaro e Morão deve ser travada em conjunto na defesa da vacinação para todos, por auxílio emergencial digno e Lockdown nacional já!
É preciso lutar para que a história não se repita! Ditadura nunca mais! Nossas vidas importam!