Apesar de tantas tentativas por parte do governo Bolsonaro de minimizar o impacto da pandemia da Covid-19, bem como de inviabilizar o processo de vacinação, a ciência brasileira resiste, e nos dá hoje a possibilidade de sonhar com dias melhores. O governo de São Paulo anunciou ontem (7) que de cada cem voluntários vacinados com a CoronaVac que contraíram o vírus, 22 tiveram apenas sintomas leves, sem a necessidade de internação hospitalar (índice apresentado como de 78% de eficácia para casos leves).
A vacina contra a Covid-19 é desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac e, ainda que não se tenha dados oficiais sobre a eficácia geral da CoronaVac, a notícia foi recebida muito positivamente pelos especialistas e pode significar um grande passo rumo ao fim da pandemia que já vitimou 200 mil pessoas no país. Sobre essa guerra, é importante sempre destacar que o enfrentamento da pandemia tornou-se ainda mais complicado considerando que a Covid-19 chegou ao Brasil em meio a um processo de destruição do serviço público e sucateamento da produção de conhecimento científico local.
A falta de incentivo financeiro para o desenvolvimento de pesquisas, ataques a programas de iniciação científica e até mesmo o discurso de demonização da ciência são artifícios que contribuem sorrateiramente para defasagem do conhecimento produzido no país. Coordenar essas artimanhas foi uma função que Jair Bolsonaro (sem partido) tirou de letra desde o início de seu mandato. De lá para cá foram diversos cortes orçamentários cortes de bolsa, limitação do atendimento oferecido pelos restaurantes universitários,impacto na assistência estudantil em diversas instituições do país, além das declarações, do presidente de seus familiares, que desqualificam o trabalho de docentes e técnico-administrativos e os estudantes
Dentre as ações mais prejudiciais de Bolsonaro nesta sua guerra contra a ciência, pode-se destacar os cortes de orçamento e a política de contingenciamento levada a cabo em 2019. Embora a intenção dessas ações não sejam novidades, visto que vinham sendo implementadas desde o governo Dilma e aprofundadas com o “teto de gastos” de Temer (por meio da Emenda Constitucional 95), é indiscutível que elas foram aprimoradas na gestão de Bolsonaro, sendo mais rapidamente sentidas pelos estudantes da classe trabalhadora.
Não podemos nos esquecer que quando anunciou os cortes, o ministro da educação se referiu às universidades federais como lugares de “balbúrdia”. Os ataques de Bolsonaro e seus seguidores não pararam por aí e foram insistentes, afirmando que as universidades públicas supostamente gastavam demais e não traziam retorno para a sociedade. Seus argumentos, no entanto, caem por terra quando o SUS e as instituições públicas de pesquisa passaram a ter papel central na superação da pandemia e no combate ao vírus.
Logo no início da pandemia, o sequenciamento do genoma da Covid-19 foi feito pelo Instituto Adolfo Lutz em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e com a Universidade de Oxford. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio do projeto Rede Vírus, desenvolveu um novo teste de diagnóstico para a doença. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi criada uma inteligência artificial capaz de monitorar os casos. O Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN), por sua vez, desenvolveu um sistema de monitoramento contínuo dos casos da Covid-19 no Estado.
A UFRN hoje conta ainda com sete ultrafreezers à disposição da Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte (Sesap) para serem utilizados na logística do plano de vacinação contra a Covid-19 no estado.Tais ações são apenas algumas noticiadas todos os dias de como às Universidades dão retorno à sociedade. E muito mais poderia ser feito com um líder de estado que respeitasse e investisse na educação como uma forma de desenvolver o país como um todo.
O Instituto Butantan confirmou na noite de ontem (7) que assinou um contrato com o Ministério da Saúde para a aquisição de doses da Corona Vac para o plano nacional de vacinação. Bolsonaro, por sua vez, declarou essa semana que o Ministério da Saúde suspendeu a compra de seringa até que os preços “voltem à normalidade”. Nesse ping-pong de declarações, o plano nacional de vacinação já demonstra ter suas falhas e apesar do cenário, agora com a alta eficácia comprovada da Corona Vac, ser animador nossa luta agora é pela garantia da vacinação gratuita e para todos e pela valorização tanto do serviço público no geral quanto da ciência brasileira que, ao contrário de quem nos governa, fez e faz muito pela população.