Setembro é o mês de prevenção ao suicídio. No Brasil, a campanha foi criada em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), e sancionada pelo Senado em 2015.
Falar sobre suicídio é falar sobre saúde mental. Para além da importância da psicoeducação, ou seja, do fomento de informações e apoio para lidarmos com o problema, é necessário também discutirmos as bases sociais, políticas e econômicas que interferem na saúde mental das trabalhadoras e trabalhadores.
De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde publicado em setembro do ano passado, a taxa global de suicídio caiu 9,8%, entre 2010 e 2016. No entanto, houve aumento de +6% nas Américas, onde o acesso a armas de fogo é um meio importante de suicídio.
Ainda segundo o relatório, em números absolutos, a maioria dos suicídios ocorre em países de baixa e renda média. Mas países de renda alta têm a maior taxa: 11,5 por 100.000 habitantes.No Brasil, porém, a taxa teve aumento de 7%.
A maioria dos fatores de risco que prejudicam a saúde mental estão relacionados a fatores sociais, sobretudo no que se refere às opressões. Jovens LGBTs, por exemplo, têm cinco vezes mais propensos a cometer suicídio do que um jovem heterossexual, segundo estudo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
O racismo sofrido pelas negras e negros aumenta o risco de depressão. À época da escravidão, o sentimento de tristeza e melancolia denomina-se "banzo". Nesse período, o índice de suicídio entre as pessoas escravizadas era duas a três vezes mais elevado.
As más condições de trabalho também estão entre os fatores de risco para o adoecimento mental. No que se refere as trabalhadoras e trabalhadores da saúde, é ainda pior. Levantamento realizado pela Secretaria Estadual de Saúde do Paraná aponta que 48 profissionais da enfermagem cometeram suicídio entre 2008 e 2017. De acordo com os autores da pesquisa, os fatores de risco decorrem das características da profissão: exaustão emocional, sobrecarga de trabalho e baixa realização pessoal. Se os ambientes forem insalubres, com condições precárias, com conflitos internos e com exigências da instituição, o risco aumenta.
Nesta pandemia de Covid-19, esses fatores de risco para as trabalhadoras e trabalhadores da saúde foram ainda mais potencializados. No Rio Grande do Norte, por exemplo, a crise sanitária aumentou o caos da saúde no estado. As servidoras e servidores trabalham sob condições precárias, com unidades sem estrutura adequada e com alta sobrecarga de trabalho.Além disso, sofrem com assédio moral e com salários defasados e atrasados.
As reformas que atacam direitos, como a trabalhista e a previdenciária, junto à crise econômica, também são fatores que influenciam na saúde mental. Aqui no estado, nessa quinta-feira (24), foi aprovada em 1º turno a reforma da Previdência estadual de Fátima Bezerra, que penaliza fortemente as trabalhadoras e trabalhadores.
Neste mês de campanha de prevenção ao suicídio, é importante fortalecermos esse debate, sobre o qual ainda há vários tabus. Esse debate também passa pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que é desmontado pelos governos. Além disso, é importante combatermos o individualismo e a falta de solidariedade desta sociedade capitalista que nos oprime e explora, e lutar por um mundo onde possamos viver plenamente nossas potencialidades.