O Brasil já começa a falar sobre o "novo normal" mesmo antes do fim da pandemia de covid-19. Ao mesmo tempo, o país registra quase 130 mil mortes por coronavírus. Esses números podem ser ainda maiores, pois o país quase não testa a população. Uma indicação pode ser o crescimento inexplicado de 30% nas mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não diagnosticadas. Segundo o Ministério da Saúde, do total de 610.958 casos de hospitalizados com início de sintomas de SRAG, de janeiro até 16 de agosto, 51,9% (316.814) foram confirmados para COVID-19, mas 33,1% (202.378) por SRAG não especificada. Isso significa que podemos ter de 30 a 40 mil mortes por covid-19 que não foram diagnosticadas.
Mas, para muitas pessoas, a pandemia atravessou suas vidas sem que ocorressem grandes mudanças. Continuam pegando ônibus lotados sob risco de infecção e morte, continuam trabalhando fora de casa para ganhar seu ganha pão, continuam salvando vidas, como é o caso dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde e trabalhadores dos serviços essenciais.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diz que o "Brasil está praticamente vencendo a pandemia". Vencendo uma tragédia anunciada de quase 130 mil vidas arrancadas. Essas mortes tem responsabilidade desse governo que sempre foi contra o isolamento social e jamais garantiu uma política de quarentena para valer, isto é, com garantia de renda e proteção ao emprego dos trabalhadores. Ou ele pensou que o auxílio emergencial vem dando conta das necessidades básicas das famílias?
Além de tudo isso, Bolsonaro fez uma declaração completamente irresponsável, dizendo que ninguém é obrigado a tomar a vacina, que ainda está longe de ser descoberta e distribuída de forma ampla. Acontece que qualquer vacina só funciona quando ela é aplicada na grande maioria da população, criando um efeito coletivo de imunidade.
Mas, não é só Bolsonaro que é responsável por essa triste situação. Os governadores e os prefeitos também são. A naturalização da pandemia é resultado das ações dos governos que salvam os empresários e mandam os trabalhadores para o abate. A governadora Fátima Bezerra (PT) e o prefeito Álvaro Dias (PSDB) não adotaram o lockdown alegando que não era o momento. Hoje, o RN registra 2.302 mortes. Pelo contrário, flexibilizaram a quarentena, reabrindo serviços não essenciais. Durante todo esse período, o governo não recebeu o Sindsaúde/RN e só concedeu a insalubridade aos servidores, após mediação com o Ministério Público do Trabalho.
Já não bastasse a pandemia, a governadora e o prefeito enviaram reformas da Previdência municipal e estadual para retirar mais ainda direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Apesar do Estado registrar uma queda no número de mortes e de contaminação, especialistas dizem que os dados devem ser observados com cautela. No entanto, o governo e as prefeituras já reabriram quase tudo. Bares, shoppings, restaurantes, hotéis... O prefeito de Natal, por exemplo, liberou parques de diversões, circos, escolinhas de futebol e as escolas particulares. Um absurdo!
Sob esse "novo normal", acompanhamos notícias de aglomerações em praias, bares, ônibus e espaços públicos. Reflexo disso são os novos dados desta sexta-feira (11) que registra um aumento nos casos de covid-19. Em 24h, o estado teve duas mortes e 359 casos confirmados. Outros 574, foram notificados como casos suspeitos. Achamos que a culpa não é da população, e sim dos governos que investiram em uma falsa sensação de que tudo voltou ao normal e que a pandemia está chegando ao fim. Não. A pandemia não acabou! Pessoas continuam morrendo pelo coronavírus. Para nós do Sindsaúde/RN, normal mesmo é não morrer!