"Se cuida e cuida da nossa filha", disse José antes de morrer à esposa, Andresa. A triste notícia chegou no início da tarde de sábado de 6 de junho. Pesada. Amarga. Logo veio a estranheza da vida. Andresa ficou preenchida de vazio.
A angústia começou a se aprofundar quando ela não pode mais acompanhá-lo no hospital. O estar próximo, tão necessário para aquecer a alma, já não era mais possível devido à infecção pelo vírus. Com a voz embargada, Andresa diz que seu companheiro era uma pessoa muito querida, com muitas amigas e amigos. Nayonara, uma delas, ainda não acredita que José foi embora.
Logo depois que Nayonara descobriu que ele tinha testado positivo para Covid-19, sempre mandava mensagens para saber como ele estava. E, na última resposta que ele deu, disse que não estava bem, mas que ficaria. E ela confirmou que tinha fé em Deus e que ele ia se recuperar o mais rápido possível.
A amiga de José ficou em choque quando soube de sua morte. "Eu não queria acreditar, mas pessoas me ligavam e eu pensava: "é pra dizer que é mentira", "é pra confirmar que é boato" pois eu tinha muita esperança e fé em Deus que tudo iria se resolver. Apesar de saber da gravidade do seu quadro", contou.
José era uma pessoa de bom astral, sempre muito alegre, brincalhão. Estava sempre disposto a ajudar e também de dar uma palavra amiga. Era uma pessoa de um coração enorme, tinha prazer em ajudar as pessoas. E trabalhava com amor.
Para Luciana, sobrinha de José, ele era mais do que um tio; era um pai. Ele a criou desde pequena. Ele ensinou "Ciana", como a chamava, a ler, escrever e a lutar.
Ele dava tanta atenção às pessoas que esquecia de si. A mãe era tudo para ele. Quando ela sofreu uma parada cardíaca e precisou se internar, José sempre a acompanhava nas consultas. Quando soube da morte do filho, ela ficou muito abalada. A lei da natureza falhou e o levou primeiro. Luciana tem certeza que, quando sua avó for ao hospital novamente, irá cair em lágrimas, pois lembrará do afeto do filho.
José era agitado, tinha muita energia. De riso fácil, mantinha sempre o bom humor, mesmo diante das adversidades. Uma das coisas que mais o assustavam eram as baratas. Luciana conta que tentou assustá-lo um dia com um desses insetos, de brincadeira. Ele ficou bravo mas logo riu.
No trabalho não era diferente. Ele dava tudo de si e amava o que fazia. Era como um pai para a equipe de agentes de endemias. Não queria se afastar da UPA onde trabalhava, mesmo sendo hipertenso, pois dizia que as pessoas precisavam dele. Gostava de cuidar das pessoas.
O servidor também era um homem de luta e se envolvia em atividades sindicais. Presidiu a comissão eleitoral de uma das eleições do Sindsaúde, na regional de Mossoró. Todas e todos que estavam envolvidos na eleição, assim como toda a categoria, tinham um imenso respeito por ele, devido a sua trajetória.
Estava sempre disposto também a ajudar o próximo. Uma de suas últimas ações de solidariedade foi entregar cestas básicas a pessoas necessitadas.
José Paixão tinha paixão pela vida e amava as pessoas. "Uma das piores coisas desta pandemia é não poder dar o adeus final às pessoas que morrem. O que me conforta é pensar nas lembranças boas de José", desabafa Luciana. Ele acena de algum lugar.
Relatos compartilhados pela esposa de José Paixão, Andressa, a amiga Nayonara e a sobrinha, Luciana
Escrito e apurado por Tiago Silva