No momento em escrevíamos esta matéria, dia 2 de abril, o mundo registrava mais de 1 milhão de infectados pelo novo coronavírus e as mortes superavam a marca de 50 mil pessoas, segundo um levantamento da Universidade John Hopkins. No Brasil, as Secretarias Estaduais de Saúde contabilizavam, nesta mesma data, 8.044 infectados e 324 mortos pela Covid-19. A doença que foi chamada de “gripezinha” por Bolsonaro e que ainda não recebeu a devida atenção de boa parte dos governantes no mundo, segue deixando um rastro de vítimas fatais e de incertezas para a humanidade.
Entretanto, em meio a todo este cenário, é preciso falar daqueles que já receberam palmas nas janelas dos prédios e são chamados de heróis diariamente pela população, mas continuam desprezados pelos governos de modo geral. São os trabalhadores e trabalhadoras da saúde. Mulheres e homens que estão na linha de frente do combate à pandemia e que são um dos setores mais afetados pelo coronavírus, justamente pela falta de condições adequadas de trabalho. Na última quarta-feira (1º), a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte informou que os profissionais de saúde do estado representam 37% dos casos confirmados de coronavírus. Até então, o RN havia registrado 92 pessoas infectadas. Destas, 34 são trabalhadores da saúde, ou seja, um terço do total de contaminados.
Este é um retrato que está se desenhando no Brasil e no mundo. No dia 30 de março, a Espanha divulgou que 14% dos seus mais de 85 mil infectados eram profissionais da saúde, algo em torno de 12,3 mil pessoas. Na Itália, já são 6,4 mil trabalhadores do setor infectados pelo coronavírus. O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, afastou 104 funcionários após testarem positivo para a Covid-19. No Albert Einstein, foram 348 profissionais diagnosticados; e no Hospital das Clínicas, o maior hospital público do país, foram afastados 125 trabalhadores. Eles são de diversas áreas que têm contato direto com os pacientes, como enfermaria, limpeza, recepção e manutenção.
Para se ter uma ideia da exposição a que estão submetidos os funcionários da saúde, uma pessoa infectada com o novo coronavírus transmite o patógeno, em geral, para até três pessoas. Mas um paciente em atendimento em um hospital da cidade chinesa de Wuhan, por exemplo, passou o vírus para ao menos 14 profissionais de saúde antes mesmo de ter febre, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
É verdade que esse novo vírus possui um altíssimo potencial de transmissão, mas também é verdade que a vulnerabilidade dos trabalhadores da saúde está diretamente relacionada às suas condições de trabalho, a exemplo da falta de equipamentos de proteção individual. Aqui no Rio Grande do Norte, eles trabalham expostos a agentes nocivos e não nem recebem adicional de insalubridade. Em alguns hospitais, faltam até produtos para a higienização, como álcool e sabão para lavar as mãos. Na prática, é como se os profissionais fossem enviados para uma guerra sem nenhuma segurança. Em geral, faltam máscaras, luvas e aventais ou existem em quantidade insuficiente.
Esta situação de risco não se dá apenas pelo fato de os trabalhadores lidarem com pessoas doentes, mas principalmente pela falta de políticas públicas e investimentos na saúde. De acordo com informações da BBC Brasil, na França, médicos foram à Justiça contra o governo sob a acusação de falhas no aumento da produção de máscaras. No Zimbábue, enfermeiros e médicos fizeram paralisações contra a falta de equipamentos de proteção, em meio à quarentena de três semanas adotada no país para tentar conter o avanço da pandemia. No RN, os servidores da saúde vêm protestando nos hospitais contra a falta de EPI’s e o SINDSAÚDE entrou na justiça para que a governadora Fátima Bezerra (PT) fosse obrigada a garantir os equipamentos necessários aos trabalhadores da saúde, em quantidade suficiente por 90 dias.
Além disso, o Governo está obrigando os servidores da saúde com doenças crônicas, gestantes e lactantes (do Grupo de Risco) a trabalharem. O Governo Fátima recorreu ao Tribunal da Justiça a decisão que afastava trabalhadores do grupo de risco. O TJ suspendeu a decisão e, agora, esses servidores são obrigados a retornar ao trabalho. O Governo está negligenciando a vida dessas pessoas. Como um trabalhador da saúde doente salvará vidas?
O Sindsaúde RN orienta aos trabalhadores da saúde, conforme preceitua o Código de Ética da Enfermagem, em seu art. 64, a recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica.