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Érica Patrícia Galvão tem 36 anos e um filho de 13 e é técnica em enfermagem no Hospital Municipal de Natal (RN). Ela, assim como milhares de profissionais da área da saúde, está na linha de frente no combate à pandemia do coronavírus (Covid-19).
A técnica em enfermagem apontou a necessidade de dar divulgação para tudo o que os profissionais da área da saúde estão passando, sem o devido apoio do governo e tendo como missão salvar o máximo de vidas que puderem.
Érica deu uma entrevista exclusiva para o site da CSP-Conlutas para contar um pouco do seu dia a dia no pronto-socorro em que trabalha há um ano.
No Rio Grande do Norte a governadora Fátima Bezerra (PT) deu declarações de que tinha acordo com algumas medidas defendidas por Bolsonaro, com relação à economia, se inclinando a relaxar o isolamento social, o que a preocupa ainda mais.
A trabalhadora da área da saúde se diz estarrecida com a política e recentes declarações de Bolsonaro para que a população saísse do isolamento social. “Sabemos que nosso sistema já é colapsado, e se tivermos mais doentes isso será uma verdadeira tragédia, o governo Bolsonaro está mais preocupado com os banqueiros e empresários, do que com a vida dos trabalhadores”, avalia.
A profissional da saúde salienta que não está vendo políticas divulgadas pelo estado e município sendo implementadas. “Nosso sindicato, o Sindsaúde, ganhou algumas ações em que foram deferidos, de forma emergencial, o afastamento de servidores de grupos de risco, a compra e entrega imediata dos EPIs [Equipamento de Segurança] adequados, entre outras medidas”, informa.
Segundo Érica, não existem protocolos ou planos de proteção mais eficazes sendo divulgados, “a lentidão é contraditória ao que estamos assistindo todos os dias com a crescente contaminação das pessoas”.
A técnica em enfermagem fez um apelo a todos os colegas de profissão para que se protejam e exijam dos governos seus direitos. “Nós, apesar de sermos chamados de heróis, não somos super heróis, precisamos nos unir nacionalmente, precisamos estar cientes que não dá mais para trabalhar com as gambiarras que os governos nos obrigam, com todo o sucateamento que existe no SUS [Sistema Único de Saúde]”, aponta.
“Quem cuidará da saúde de quem cuida da saúde das demais pessoas, se ficarmos doentes ou morrermos?”, questiona.
Érica reforça que é preciso unidade de toda a classe trabalhadora em defesa da saúde e da vida. “Não podemos aceitar trabalhar sem as condições necessárias, não podemos aceitar trabalhar sem o EPIs adequados, não podemos nos submeter ao que esses governos estão querendo fazer com a classe trabalhadora, que é nos empurrar para a morte”, conclui.
“O sentimento é de que estamos indo para uma guerra contra um inimigo que está super preparado, enquanto nós estamos indo pra essa briga com um canivete na mão”, compara.
Pensando em proteção e defesa da Saúde, reivindicações já levantadas por Érica, a CSP-Conlutas irá lançar um programa e uma campanha voltada para os profissionais da área da saúde e em defesa desse serviço. Acompanhe em nosso site e nossas redes.
Veja a integra da entrevista da técnica em enfermagem abaixo:
CSP-Conlutas: Como é estar na linha de frente no combate à pandemia contra o coronavírus?
Érica: Para nós, da saúde, principalmente os que prestam assistência direta aos pacientes, nesse momento temos muito medo, insegurança, porém, tendo que ter força para lutar contra esses sentimentos, por saber que nosso SUS [Sistema Único de Saúde] é sucateado e caótico. Passamos anos em improvisos, no entanto, lidando com doenças que não apresentam o perigo global que esse vírus representa.
CSP: No hospital em que trabalha aumentou o número de pessoas procurando atendimento?
O hospital em que trabalho está passando pelo processo de desospitalização, ou seja, todos os pacientes que não são Covid-19 positivos, estão sendo removidos nessas duas semanas, para começarmos a receber os Covid-19 positivos. Serão dois andares e uma UTI [Unidade de Tratamento Intensivo] para esses pacientes. Mesmo assim, o serviço de PS [Pronto Socorro] infantil e ortopédico está sendo muito procurado ainda.
CSP: Vocês estão se protegendo como contra o coronavírus? Os hospitais têm disponibilizado equipamentos para higiene e segurança dos trabalhadores da saúde?
Os EPIs [Equipamentos de Proteção] estão cada dia mais escassos, existe a falta de álcool e até papel toalha, nós já trabalhávamos, antes do coronavirus, em péssimas condições, com falta de insumos básicos.
Isso foi pauta de nossa greve, com essa pandemia essa crise só se escancara ainda mais. Estamos fazendo de tudo para nos proteger, mesmo sabendo que muita coisa que fazemos não é suficiente.
Estamos tendo treinamentos, mas o medo nos abate, estamos vendo pelo mundo todo os profissionais de saúde com equipamentos de ponta, e os nossos são os mais simples, e limitados.
Então, o sentimento é que estamos indo para uma guerra contra um inimigo que está super preparado, enquanto nós estamos indo pra essa briga com um canivete na mão.
CSP: Como está a estrutura no atendimento no hospital em que trabalha? Tem funcionários e médicos suficientes?
Não temos profissionais suficientes, inclusive, saímos recentemente da greve, e uma das pautas era a chamada dos concursados, porque estávamos sobrecarregados. Eu cheguei a atender em um turno de 12h, 114 pacientes sozinha.
A estrutura é de um prédio que tem quase 30 anos, e que a gestão apenas faz remendos para o funcionamento dele. Ainda não estamos entendendo por que a prefeitura elegeu este hospital como o segundo prioritário para o acolhimento de Covid-19 positivos.
CSP: Qual a sua opinião sobre a política implementada no seu estado de prevenção à pandemia?
Na verdade, não estamos vendo as políticas divulgadas sendo implementadas de fato. Nosso sindicato, o Sindsaúde/RN ganhou algumas ações em que foram deferidas, de forma emergencial, o afastamento de servidores de grupos de risco, a compra e entrega imediata dos EPIs adequados.
Não existem protocolos ou planos sendo divulgados. A lentidão é contraditória ao que estamos assistindo todos os dias com a crescente contaminação das pessoas.
Tanto a gestão estadual, como a municipal publicizam algumas medidas, porém não estamos sentindo essas medidas chegarem até nós. Por isso, tanta preocupação da nossa categoria.
CSP: Ao longo dos anos servidores ou trabalhadores da saúde tem enfrentado quais retiradas de direitos por parte dos governos e patrões?
Aqui no município de Natal, nós, servidores da saúde estamos desde 2014 sem reajuste salarial, sem as promoções, as licenças prêmios, muitos não recebem as gratificações, e uma grande maioria não recebe insalubridade.
Inclusive, nesse momento, muitos de nós não estamos recebendo a insalubridade normal, onde o correto seria receber 40% de insalubridade em meio a essa pandemia, estarmos lidando com uma doença extremamente infectocontagiosa. Fora a falta de estrutura, o sucateamento que é profundo, e a sobrecarga de trabalho.
CSP: Qual a sua opinião sobre as medidas anunciadas pelo Bolsonaro de contenção da crise?
Fiquei estarrecida com a declaração de Bolsonaro para que a população saísse do isolamento social. Sabemos que nosso sistema já é colapsado, e se tivermos mais doentes isso será uma verdadeira tragédia, o governo Bolsonaro está mais preocupado com os banqueiros e empresários, do que com a vida dos trabalhadores.
Ao invés de tachar as grandes fortunas, parar de pagar a dívida externa, e redistribuir essa renda com a população mais pobre, ele ataca duramente muitas categorias, querendo cortar salários, aumentando jornadas, assim como para os trabalhadores da saúde, que poderão trabalhar até 24h contando apenas um turno. Isso é um verdadeiro absurdo.
Ele quer jogar a população à morte e a nós, trabalhadores da saúde, também, assim como os demais trabalhadores. As medidas desse governo são medidas genocidas.
CSP: Qual a sua opinião sobre o governo estar cogitando a redução de 20% nos salários dos servidores como medida para economizar dinheiro da União?
Total absurdo, pois se não morrermos pela doença, iremos morrer de fome. Não é possível que esse governo genocida não taxe as grandes fortunas desse país, precisamos redistribuir a riqueza entre todos.
CSP: Alguma outra coisa que queira dizer e eu não perguntei?
Gostaria de dizer aos colegas de profissão do Brasil inteiro, que fizemos, sim, um juramento de salvar as vidas independente da doença que fossemos prestar a assistência, porém, nós, apesar de sermos chamados de heróis, não somos super heróis.
Precisamos nos unir nacionalmente, precisamos estar cientes que não dá mais para trabalhar com as gambiarras que os governos nos obrigam.
Com todo o sucateamento que existe no SUS, quem cuidará da saúde de quem cuida da saúde das demais pessoas, se ficarmos doentes ou morrermos?
Então, precisamos exigir medidas desses governos, precisamos denunciar a situação de calamidade que sempre existiu e ficou mais aparente e latente com a pandemia.
Não podemos aceitar trabalhar sem as condições necessárias, não podemos aceitar trabalhar sem o EPIs adequados, não podemos nos submeter ao que esses governos estão querendo fazer com a classe trabalhadora, que é nos empurrar para a morte.
Trabalhadores da saúde, é preciso nos unir. Se não tivermos condições de trabalho, devemos, sim, preparar grandes paralisações a nível nacional na nossa categoria e chamar o apoio nesse momento de todas as categorias de trabalhadores do Brasil.
Autor: CSP-Conlutas