Se a situação dos hospitais públicos no RN já era absurda antes do novo coronavírus, com a chegada da pandemia o cenário se tornou desesperador. A falta de condições de trabalho, de infraestrutura hospitalar e a sobrecarga para os servidores demonstram o total descaso dos governos com a saúde pública e com aqueles que se dedicam a salvar vidas.
O Sindsaúde/RN não para de receber denúncias de funcionários em diversos hospitais do estado, sendo a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) a mais recorrente neste momento, como aventais, máscaras e luvas. No Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, servidores estão improvisando aventais com TNT (tecido não tecido), que não são adequados nem impermeáveis como devem ser os aventais hospitalares. No Hospital João Machado, faltam materiais básicos de higiene, como sabão e álcool. O repouso dos profissionais da saúde foi tirado para servir de enfermaria para pacientes com o novo coronavírus. As máscaras que existem no Hospital são negadas pela farmácia, com a justificativa de que é preciso economizar para quando a pandemia aumentar.
Mas os relatos mais dramáticos nestes últimos dias estão vindo do Hospital Giselda Trigueiro. Segundo informações de uma funcionária da unidade, desde que começaram a chegar pacientes com suspeita de coronavírus, a coleta de material tem sido intensa e a situação da central para onde eles são encaminhados põe em risco de contaminação tanto os servidores quanto os pacientes. “A central de material é imunda, sem estrutura nenhuma”, conta a funcionária. “Não temos equipamentos de proteção, apenas botas de plástico, aqueles capotes de pano e mais nada. Tem gente chorando. A reclamação é geral.”, completa.
A servidora revela ainda que a sala do expurgo no Hospital Giselda Trigueiro é insalubre e tem apenas uma única pia para higienizar todo tipo de material. Além disso, há mofo nas paredes, entulho no pátio da unidade e um esgoto estourado, com um mau cheiro insuportável. “Em nenhum momento chegou a informação de que o hospital estivesse comprando EPIs. Quando questionamos, ficamos mal vistas pelas chefias. Todo ano falam em reforma aqui, e nada.”, desabafa a servidora.
Esta situação de completo abandono da saúde pública se repete em todo o país e é responsabilidade dos governos, em especial do presidente Bolsonaro (sem partido) e da governadora Fátima Bezerra (PT), no caso do RN. Só este ano o SUS sofreu um corte de R$ 9 bilhões em relação a 2019 e a PEC Emergencial do governo federal ainda prevê mais redução na cobertura de vacinas e menos leitos nos hospitais.
A governadora Fátima Bezerra segue a mesma linha desmonte da saúde pública dos governos anteriores, fechando leitos e hospitais, como foi o caso do hospital de Canguaretama e agora com o hospital Ruy Pereira. É fundamental que os governos garantam recursos emergenciais à saúde pública para o funcionamento de hospitais, compra de EPIs e convocação imediata de novos servidores. “É preciso, por exemplo, suspender o pagamento do contrato fraudulento com a Arena das Dunas e cobrar a dívida de R$ 8 bilhões que grandes empresas têm com o Estado. É preciso concentrar os recursos públicos para salvar vidas, garantindo a quarentena das pessoas, os salários dos trabalhadores e a proteção dos profissionais de saúde.”, defende Breno Abbott, coordenador do Sindsaúde/RN.
O Sindicato vem tomando medidas políticas e jurídicas em defesa da saúde da categoria. Como a ação que obriga o Estado a adotar medidas para que não faltem EPIs aos servidores e a que pede o afastamento dos servidores que estão no grupo de risco. Além de estarem trabalhando sem proteção, os servidores estão com duas folhas salariais em atrasado e sem receber o adicional de insalubridade. Para nós do Sindsaúde combater o coronavírus é fortalecer e melhorar as condições de trabalho.