Diante da rápida expansão de casos de Coronavírus (Covid-19) pelo mundo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou nesta quarta-feira (11) que há uma pandemia do vírus, que age semelhante a uma forte gripe. Até ontem, 114 países tinham casos confirmados.
São mais de 124 mil casos em todo o mundo e cerca de 4.500 mortes registradas, sendo a ampla maioria na China, onde se originou a doença. A Itália enfrenta a situação mais crítica na Europa e é o segundo país mais afetado, com cerca de 10 mil casos e 631 mortes.
O Brasil teve seu primeiro caso confirmado no dia 25 de fevereiro e até esta quarta-feira tinha 69 casos identificados e cerca de 900 casos suspeitos.
Segundo a OMS, os números de casos, mortes e número de países atingidos devem aumentar nas próximas semanas. A organização mundial, contudo, reafirmou que não considera que a doença esteja fora de controle, que haja uma situação para pânico generalizado. A China, por exemplo, declarou nesta quinta (12) o fim do surto no país, com o declínio do número de casos diários.
O alerta da OMS é para que os governos sejam rápidos em tomar medidas de contenção e prevenção do vírus e não partir apenas para medidas de mitigação (cuidado com doentes e públicos prioritários) ou restritivas.
Os impactos do novo vírus
Ainda não há vacina contra o Coronavírus. Vários cientistas, médicos e especialistas apontam uma baixa letalidade da doença, contudo, destacam a capacidade de rápida proliferação do vírus, fato que acabou levando à declaração de pandemia pela OMS nesta quarta.
Além dos sintomas típicos da gripe – como febre, tosse, dor muscular e cansaço –, o coronavírus pode afetar o sistema respiratório da vítima, causando pneumonia e podendo matar. As pessoas mais suscetíveis às consequências graves do vírus são crianças, idosos e pessoas com problemas cardiovasculares. Vale destacar, contudo, que neste cenário, sem sombra de dúvida, a população mais pobre, como sempre, é a mais vulnerável.
Os prognósticos sobre a duração desta pandemia, até que ponto será sua disseminação ou número de vítimas fatais ainda são incertos e divergentes, mas um fato já é real: o rápido contágio que já afetou mais da metade dos países do mundo e os impactos na economia mundial.
Na China, regiões inteiras foram colocados sob quarentena, centros industriais, escolas e comércios paralisaram as atividades. A economia chinesa que já vinha em processo de desaceleração de crescimento econômico, com o Covid-19, viu o PIB do país cair ainda mais e as perspectivas iniciais é de uma redução de 0,5% este ano, o que terá forte impacto na economia mundial. Na Itália, a situação é semelhante. No mercado financeiro, uma forte instabilidade instalou-se nos últimos dias, com fortes perdas diante não só do Coronavírus, mas também da crise do petróleo.
A resposta dos governos
Reação demorada, medidas incompletas para identificação e isolamento do vírus e sistemas de saúde sucateados após anos de políticas neoliberais de cortes e privatizações têm sido apontados por especialistas como situações que explicam parte das razões para o agravamento da crise em todo o mundo.
No Brasil, Jair Bolsonaro, cuja política econômica é baseada em reformas ultraliberais que visam o desmonte do Estado e das políticas públicas, com brutais cortes de investimentos em áreas como Saúde e Educação, vem dando declarações de total descaso perante a gravidade da situação.
Segundo o presidente ultradireitista, a pandemia tem sido “superdimensionada” e a crise no país fruto dos problemas mundiais é uma “fantasia”, em mais uma declaração absurda que revela a postura criminosa e irresponsável deste governo.
O sucateamento da saúde pública no Brasil acende um alerta sobre a capacidade dos hospitais atenderem a população e, principalmente, os infectados graves. Este ano, o orçamento da Saúde sofreu um corte de R$ 9 bilhões em relação a 2019 e o pacote de reformas de Bolsonaro e Paulo Guedes prevê ainda mais redução de verbas para o SUS (com a PEC Emergencial), redução na cobertura de vacinas, menos leitos nos hospitais, etc.
A crise com a propagação do Coronavírus coloca em xeque também a política criminosa do governo de ultradireita de Bolsonaro e Mourão, que vem fazendo graves ataques à área da Ciência e estimula o desmatamento, já identificado como uma das causas de propagação de novos vírus na atualidade.
Ironicamente, apesar do governo e do ministro da Educação Abraham Weintraub divulgarem Fake News de que nas universidades brasileiras só tem “maconheiros e orgias”, foram cientistas brasileiros da USP e do Instituto Adolfo Lutz que conseguiram fazer o sequenciamento genético em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso no país. O sequenciamento permite conhecer o vírus e descobrir o tratamento.
Defesa da saúde e empregos
Não há dúvidas de que em um quadro de pandemia como esse são setores mais vulneráveis, ou seja, a classe trabalhadora, setores oprimidos e mais pobres, os mais afetados em todo o mundo.
É preciso que os governos e as empresas tomem medidas diante de uma possível aceleração da disseminação do Coronavírus.
Mas devem ser medidas para garantir a saúde pública, os empregos e direitos sociais e trabalhistas, e não o avanço de reformas neoliberais como absurdamente já propuseram Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e Davi Alcolumbre, do Senado, que visam apenas garantir mais privatizações e desmonte do Estado, a serviço dos lucros e interesses de banqueiros, grande empresários e do agronegócio.
O governo federal, dos estados e municípios devem garantir recursos emergenciais à Saúde para o funcionamento de hospitais e da rede pública, com profissionais, medicamentos, leitos, etc. Assim como verbas para o setor de Ciência e Tecnologia e todo o suporte à pesquisa sobre o vírus, e recursos para medidas preventivas, como equipamentos, higienização dos pontos de grande concentração pública, etc.
Uma ampla e massiva campanha de vacinação contra a gripe para toda a população também é necessária, pois vai reduzir o fluxo de falsas suspeitas do Coronavírus, reduzindo a pressão sobre a rede pública. Exigimos tratamento digno para as pessoas infectadas ou suspeitas de infecção e nenhuma medida restritiva que possa arbitrariamente ferir os direitos humanos.
As consequências econômicas causadas pela pandemia já começam a ser sentidas por trabalhadores em vários países, com fechamento de empresas, queda na produtividade, etc. Vemos ainda os capitalistas aproveitarem de uma crise como essa para ganhar dinheiro e por isso assistimos os ataques especulativos que vem causando a instabilidade nas bolsas, em que uma minoria, apesar de tudo, ganha muito dinheiro.
Os trabalhadores não podem pagar por mais essa crise!
Nos países, como China e Itália, onde os impactos já são muito grandes, há medidas que isolam regiões inteiras, fábricas foram fechadas, a circulação de pessoas foi restringida, é dever das empresas e governos garantir estabilidade no emprego, manutenção integral dos salários, o custeamento das famílias trabalhadoras para obter alimentos, medicamentos, cuidado com os filhos, etc.
No Brasil, com um eventual quadro que afete as empresas no país, as respostas precisam ser as mesmas e outras como licença-remunerada em casos de suspensão de atividades, pessoas em quarentena na família, suspensão de aulas e necessidade de cuidado com os filhos, etc. O governo e o Congresso devem editar medidas que garantam a proteção do emprego, da saúde e segurança dos trabalhadores nos locais de trabalho.
Por último, todas as medidas do governo Bolsonaro e Mourão que propõem privatização, ataques aos serviços públicos, cortes em áreas essenciais como Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, reformas da Previdência e Trabalhista, desmonte de fiscalização ambiental, entre diversos outros ataques, devem ser suspensas ou revogadas. É preciso um plano de investimentos e obras públicas para gerar empregos e medidas que garantam aumento de salários e direitos.
Essas e outras medidas necessárias, contudo, só poderão ser obtidas com a mobilização dos trabalhadores, dos setores oprimidos e mais pobres. A postura de descaso de Bolsonaro e a proposta de avançar com reformas que retiram direitos demonstra que se depender dos poderosos, acima de tudo, estão os lucros e interesses capitalistas. A nós trabalhadores cabe irmos à luta.
Via CSP-Conlutas