A mesa da sexta-feira (22) à tarde da reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas debateu a realidade de segmentos sociais que têm sido brutalmente atacados pelas políticas do governo de Jair Bolsonaro (PSL): quilombolas, indígenas, trabalhadores rurais e imigrantes.
Quilombola da Baixada Maranhense, João da Cruz, integrante do Moquibom (Movimento das Comunidades Quilombolas da Baixada Ocidental Maranhense), é agente comunitário de saúde e informou que em São Luís há 23 comunidades quilombolas. “Esse município é um quilombo”, disse.
“A luta por territórios é para que as nossas comunidades possam viver”, reforçou João, que também explicou que na terra estão a cultura de povos negros. “Lá temos identidade espiritual com esses territórios”.
Apesar de haver um governo de Frente Popular em seu estado, ele denunciou que os quilombolas não receberam titulações de terras. De acordo com ele, esse é dos motivos de o Moquibom, que nasceu na Baixada Maranhense, ter representação em todo o estado.
O cacique Davi, do Jaraguá em São Paulo, representante de povos guarani, reforçou que com o novo governo todos têm sido atacados. “O indígena está sendo atacado nas aldeias e nas cidades por serem indígenas. É o crime de ódio”, denunciou.
“Estamos vendo as terras indígenas sendo atacadas e os que atacam, dizem que não existem mais direitos indígenas. O presidente acabou com a Funai, como se não fosse responsável pelos povos indígenas e nos deixam na frente do inimigo”, frisou Davi. Ele alertou do perigo da Funai sair da reponsabilidade do Ministério da Justiça e ir para as mãos do Ministério da Mulher, família e direitos humanos e tornar mais lenta a justiça para esse segmento. “Nos entregam nas mãos do inimigo para sermos mortos e quando um índio e um negro morrem não gera comoção nacional”, ressaltou.
Mesmo diante agravamento dos ataques que estão vivenciando com a evangelização da cultura indígena e a licença para matar, Davi também argumentou que não é novidade viver sob violência. “Pra nós não é novidade um governo cruel, violento, omisso, que trata o índio como algo invisível ou ser abatido. Pra nós esquerda e direita é a mesma bala”, disse.
“Peço que cada dia mais olhem para população indígena não como coitadinho, mas como um povo que luta hoje pra fazer parte do futuro”, concluiu.
Maria Elisa representou os trabalhadores rurais. Ex-colhedora de laranja na região de Duartina, no interior de São Paulo, ela contou como vive um trabalhador do campo na região. “A realidade do trabalhador rural é morar em casebre, eles são trazidos do Nordeste pelos latifundiários e não tem direitos pelo trabalho”. É uma relação análoga ao trabalho escravo, sem registro. “São massacrados e ninguém está vendo isso”, reforçou Maria.
Integrante do Movimento Mulheres e Luta, também falou da dura realidade vivida pela mulher. “Trabalhando no campo, colhendo laranjas por 11 anos, não consegui ter uma vida digna, não tinha carne pra levar na marmita, nem dinheiro para comprar um pão de manhã cedo, tinha que atingir uma meta para atingir um salário. O veneno das plantações acabou com a minha vista, com a minha a saúde, tive trombose trabalhando. Tive que voltar a trabalhar me recuperando de uma cirurgia”, relatou.
A situação das mulheres camponesas, segundo Maria Elisa, é baseada na opressão e muitas sofrem em silêncio. “Quando a gente convida para atividades do MML, elas dizem: ‘o fiscal não deixa a gente ir ou vou perder o emprego’”, contou.
Os imigrantes venezuelanos foram representados por dois membros da Aniv (Associação Nacional de Imigrantes Venezuelanos) Fidel Honório Lopes Martinez, de Roraima e César Barrios, de São Paulo.
Fidel alertou que a situação pela qual está passando a Venezuela não é nova, apenas se agravou depois da chegada de Maduro ao poder. “Há um processo de hiperinflação no país. O aumento dos preços, das taxas, da comida e um descontentamento geral está gerando uma situação revolucionaria na Venezuela”, disse.
O venezuelano explicou que essa insatisfação e a falta de condições de sobrevivência levam às emigrações da Venezuela. O Brasil foi o país que mais recebeu imigrantes, que tem enfrentado uma série de problemas no país. “Falta de emprego e sentimos a discriminação e xenofobia”, ressaltou Fidel.
César explicou a situação dos migrantes e as dificuldades que enfrentam na capital paulista. Segundo ele, os imigrantes são tratados com políticas para moradores de rua, mesmo recebendo verbas internacionais para garantir estrutura e os direitos dos migrantes.
A perspectiva de sobrevivência, segundo o venezuelano, passa pela unidade da classe trabalhadora. “Nosso objetivo fundamental é nos unirmos como classe, como trabalhadores. Estamos no Brasil, então com os trabalhadores brasileiros, pois somos uma classe mundial”, lembrou.
César expôs para o plenário o posicionamento da Aniv para a situação atual da Venezuela. “A postura de Aniv é não ao imperialismo, somos contra o imperialismo na Venezuela e para nós nem Maduro e nem Guaidó”, destacou, frisando ser necessário construir uma terceira via baseada na organização dos trabalhadores.
Ao final das exposições, o participante do plenário Jocélio Dantas, trabalhador cigano, teve sete minutos para explicar a luta do povo cigano no Brasil. Segundo ele, “apesar de ser conhecido de forma genérica como se fossem iguais, é um povo plural”. Lembrou que esse é um dos povos mais discriminados e sofridos no mundo.
O tema foi aberto para debate, quando novos pontos foram trazidos para o debate, entre eles, os ataques também sofridos pelos LGBTs.
O caráter sindical e popular da CSP-Conlutas e a buscar pela organização das mais diversas lutas populares foram abordados por muitos dos que se manifestaram durante as intervenções no plenário como diferenciais fundamentais para a construção da Central e da luta da classe trabalhadora brasileira.