Com o acúmulo das discussões sobre conjuntura internacional e a situação dos segmentos populares sob o governo Bolsonaro, ocorridas na sexta-feira (22), o segundo dia da reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, neste sábado (23), foi dedicado ao debate sobre a situação brasileira.
Um dos fatos nacionais mais impactantes no país foi destaque já no início do debate. Um vídeo produzido pela CSP-Conlutas sobre o crime da Vale em Brumadinho (MG) foi apresentado ao plenário e uma delegação de trabalhadores (as) e dirigentes de Minas Gerais presentes à reunião deram informes sobre a situação e defenderam a necessidade da luta para que essa tragédia não fique impune, a reestatização da empresa e o controle da produção pelos trabalhadores.
Na sequência, a mesa que faria a exposição do ponto foi composta exclusivamente por mulheres, numa expressão do reconhecimento da CSP-Conlutas sobre o papel fundamental da mulher trabalhadora na luta de classes.
Falaram as integrantes da SEN: Rejane Oliveira, Sirlene Maciel, Silvia Letícia e Raquel Dias. As expositoras, bem como as intervenções do plenário em seguida, expuseram as diversas análises e opiniões existentes dentro da Central mas, principalmente, apontaram a compreensão unânime da necessidade de construir a Greve Geral para derrotar a Reforma da Previdência e os ataques do governo Bolsonaro.
O governo Bolsonaro e as tarefas dos movimentos
Em suas análises sobre a conjuntura nacional, as quatro expositoras partiram da análise da eleição do governo Bolsonaro, seus primeiros dias de governo e as tarefas do movimento dos trabalhadores para enfrentar os ataques do mesmo.
Para Rejane Oliveira, a eleição do governo de ultradireita de Bolsonaro foi resultado da crise política, econômica, social e de representação instalada no país. “Diferente da teoria que defende a existência de uma onda conservadora, o que ocorreu é que a classe trabalhadora canalizou de forma equivocada seu rechaço contra o regime, o castigo ao PT após a traição dos governos de conciliações de classe. Bolsonaro contraditoriamente capitalizou esse sentimento. E é preciso entender esse processo, como chegamos a essa situação, pois não podemos correr o risco de apresentar saídas que apontem o retorno dos mesmos problemas”, disse. Segundo ela, a eleição de Bolsonaro não significa que a classe está derrotada. Ao contrário, segue lutando e é preciso dialogar com os trabalhadores, inclusive, os que votaram nesse governo, para lutar contra a reforma e demais ataques.
A professora Sirlene Maciel destacou que Bolsonaro foi eleito com fake news, com um discurso conservador. Em sua opinião, Lula, o candidato que estava à frente das pesquisas foi alvo de criminalização para deixar o campo aberto para a ultradireita. “Bolsonaro é um governo de extrema direita, composto por militares, evangélicos, milicianos, burguesia neoliberal e uma família mergulhada em escândalos. Mas apesar das contradições, existe uma unidade entre eles. Um governo de ultradireita que goza de popularidade e fala diretamente com as massas através das mídias sociais. Para armar o combate a esse governo, não podemos esquecer isso”, defendeu. “A classe não sofreu uma derrota histórica, mas não está em ascenso”, disse. “Precisamos colocar os trabalhadores nas ruas, com iniciativas comuns com outras entidades”, afirmou.
Terceira dirigente a falar, a professora Silvia Letícia foi contundente em afirmar que apesar das contradições da eleição do governo ultraliberal e conservador de Bolsonaro a situação política no país não mudou. “Cinquenta dias de governo Bolsonaro, independente das expectativas em parte da classe, precisamos perguntar o que mudou. O fato é que até agora o processo de instabilidade política, social e econômica no Brasil não se fechou com Bolsonaro e segue. Inclusive, com desgaste das instituições como o Congresso, o judiciário”, falou. “Não houve alteração na correlação de forças entre as classes e segue a polarização social”, disse também.
Segundo Silvia, não dá para aceitar o discurso derrotista e catastrófico em razão da eleição de Bolsonaro, pois essa visão já se mostrou equivocada em relação a outros países como França, Argentina, EUA e outros, que foram eleitos governos de direita, mas que enfrentam a luta e resistência da classe. “Em nossa opinião o momento não é de recuar para negociar direitos. É hora de ir à luta”, avaliou.
Encerrando a exposição da mesa, Raquel Dias informou sobre o Congresso realizado pelo Andes-SN e a posição aprovada pela entidade. A professora destacou a gravidade do atual momento no país. “Assistimos o avanço das forças da direita e ultradireita, não só com a vitória de Bolsonaro, mas na composição do Congresso Nacional, e antes, como a prisão política de Lula, o impeachment Dilma, o assassinato de Marielle e a intervenção no RJ”, disse.
Raquel disse ainda que a educação é a bola da vez da ofensiva conservadora do governo Bolsonaro. “Temos sido alvo de um discurso ofensivo contra os professores e contra a universidade pública e seu papel social. E hoje temos de convencer a população que a universidade não é local de pornografia, uso de drogas, como afirmam vídeos na internet”, relatou. Para a dirigente do Andes-SN, a centralidade na luta e na busca pela unidade são as tarefas do movimento para enfrentar os ataques.
Reforma da Previdência e Greve Geral
A luta para impedir a aprovação da Reforma de Previdência permeou todo o debate, seja na fala das expositoras, seja nas intervenções do plenário. No centro das discussões, foi destacado a gravidade da proposta, com profundos ataques à aposentadoria e aos direitos previdenciários, penalizando especialmente as mulheres, os mais pobres e setores oprimidos; bem como a necessidade de construir a unidade e a Greve Geral para derrotar essa reforma.
“Essa reforma vai jogar os trabalhadores numa miséria profunda. Mudanças no regime geral e próprio da Previdência, aumento idade, do tempo de contribuição, mudança do cálculo, são algumas das medidas e, principalmente, capitalização que significa a privatização. Precisamos organizar os trabalhadores para lutar contra essa reforma e contra o conteúdo conservador que virá junto com ela, inclusive contra as mulheres, as professoras, viúvas”, falou a professora Sirlene Maciel.
Rejane ressaltou que a CSP-Conlutas deve se posicionar firmemente contra a Reforma da Previdência. “Nossa Central tem de ser clara: somos contra. Não tem que negociar direitos conquistados, aceitar um ou outro ponto da reforma, buscar negociar com o governo como querem algumas centrais e abrir espaço para a derrota dos trabalhadores”, afirmou. “O ato nacional contra a reforma ocorrido no dia 20 foi positivo, mas ficou muito aquém. Deveria ter sido o início do chamamento unitário das centrais sindicais pela greve geral, a única forma para barrar essa reforma”, disse.
Plano de lutas
A importância de que a definição de um plano de lutas seja uma das principais resoluções da reunião da Coordenação Nacional foi apontada pelas debatedoras e presentes no plenário.
O próximo dia 8 de Março, quando mulheres em todo o mundo irão às ruas contra a violência, o feminicídio e os planos de ajustes e ataques aos direitos, foi avaliado como prioritário a ser assumido pela CSP-Conlutas e suas entidades e movimentos filiados. No Brasil, a data incorporará também a luta contra a Reforma da Previdência.
Foi citado ainda outras datas como o dia 14 de março, que marcará um ano do assassinato da vereadora Marielle e Anderson, e o 1° de Maio, além da luta para que as centrais sindicais apontem um dia nacional de lutas contra a reforma, rumo à Greve Geral.
Ao final do debate de conjuntura, os delegados e observadores presentes na reunião da Coordenação reuniram-se em grupos dos setoriais temáticos, de onde sairão resoluções para serem votadas no domingo, último dia da reunião, juntamente com a resolução política e de plano de lutas da Central.