O final da tarde do 1° Seminário Nacional do Campo foi marcado pelo debate em torno do fortalecimento e da reorganização dos que lutam pelas terras originárias, terras para plantar e por moradia urbana: “A reorganização e suas conseqüências para a luta pela terra”. Compuseram a mesa Waldemir Soares, advogado e assessor da CSP-Conlutas, Irene Maestro, dirigente do Luta Popular, e Atnágoras Lopes da SEN (Secretaria Executiva Nacional) da Central.
Waldemir resgatou movimentos que vieram em décadas anteriores na luta pela terra no Brasil e a diversidade de movimentos que lutam atualmente. Neste contexto, defendeu o propósito da CSP-Conlutas: “Queremos organizar movimentos independentes de empresários e de governos para liderar essas lutas”.
Defendeu também a democracia nos movimentos que se organizam pela base, com as decisões aprovadas de forma coletiva e não somente por lideranças.
“A CSP-Conlutas está se construindo como uma alternativa de luta para os trabalhadores”, assegurou, acrescentando que esse processo se dá a partir de movimentos dinâmicos que vêm lutando por território e por reforma agrária, combinados com as lutas urbanas.
Irene explicou que a luta por moradia não é somente por teto, mas é uma luta por uma vida em que organizam o saneamento, iluminação, creches, saúde no bairro que conquistam por meio das ocupações. “Nas ocupações nos auto-organizamos e nos autogovernamos com as decisões aprovadas em assembleias”.
Segundo a dirigente, se no campo lutam contra o agronegócio e latifundiários, os que lutam por moradia também enfrentam os latifúndios urbanos em que grandes empresários são proprietários de enormes áreas nas cidades. “São setores importantes do capital que temos de enfrentar”, ressaltou.
“Estarmos organizados é um perigo pro sistema e é isso que temos a fazer”, sentenciou Irene, reforçando a importância da CSP-Conlutas agregar setores diversificados na luta dos trabalhadores brasileiros.
A representante do Luta Popular defendeu a integração das lutas. “Os territórios estão fervendo – favelas, ocupações, quilombos. Não podemos deixar isso apagar. E tarefa nossa na CSP-Conlutas é dar espaço pra todas essas lutas”, reforçou. Deu como exemplo a organização dos povos originários que integram os diversos aspectos da vida. “Quem nos divide é o capital e essa divisão não serve pra gente”. Irene defendeu ainda a unidade de classe como um patrimônio dos trabalhadores. “É preciso juntar os debaixo para derrubar os de cima”, completou.
Atnágoras Lopes reforçou fundamentalmente a necessidade do classismo na luta dos trabalhadores. “Com a diversidade das lutas temos que ter a clareza de que estamos divididos em classe”. Lembrou ainda que quando muitos setores do movimento lançaram a campanha da vida “cidadã” quiseram acabar com o conceito de classe, assim como querem fazê-lo os que dizem que “agronegócio é tudo”. “Essa é uma expressão para reforçar o domínio do agronegócio sobre o peão, o pequeno agricultor, o trabalhador rural, como se os interesses fossem comuns”.
“Precisamos resgatar o que é peão, é classe trabalhadora. Cidadão não é peão e agronegócio não é tudo”, disse o dirigente ressaltando que a CSP-Conlutas defende esse conceito e atua sob essa ideologia. “Vamos fazer um esforço contra os que dizem que a sociedade não está dividida em classes”.
Atnágoras reforçou que essa concepção classista de movimento reforça a reorganização da classe trabalhadora dando à luta objetiva um significado unificado e maior. “É a consciência coletiva que nasce no combate, que constrói a nossa consciência política”.
O dirigente disse que o caráter sindical e popular da CSP-Conlutas vem no sentido de integrar e fortalecer essa luta classista. “E não propomos somente uma reforma agrária, mas uma revolução agrária”, defendendo que se avance num programa político do campo na Central.