A Guararapes, a maior indústria têxtil do Rio Grande do Norte e uma das maiores do país, dona da Riachuelo, mobilizou na última quinta-feria (21), seus próprios trabalhadores para defenderem o seu modelo de precarização do trabalho.
Isso porque o Ministério Público do Trabalho do RN moveu uma ação contra a empresa, que visa a responsabilização da Guararapes quanto aos direitos trabalhistas de empregados das facções de costura localizadas no interior, que prestam serviço terceirizado à indústria.
De acordo com o órgão, o pedido de indenização por danos morais coletivos, no valor de R$ 37,7 milhões, corresponde a parte do lucro obtido com o trabalho das facções. O lucro líquido consolidado do grupo, ainda de acordo com o MPT, teria sido de R$ 317,6 milhões em 2016. Em caso de condenação, o dinheiro deverá ser destinado a instituições sem fins lucrativos.
O MPT também sustenta que os trabalhadores destas facções devem ser contratados diretamente pela Guararapes, já que produzem sob controle e medida da empresa. Centenas de ações judiciais de trabalhadores das facções estão na Justiça porque foram demitidos e não receberam seus direitos. Muitas facções já fecharam as portas, endividadas, pois o preço da costura das peças pago pela Guararapes é de R$ 0,35 o minuto, um valor insuficiente que não cobre os custos operacionais.
A realidade da operária da Guararapes
As mulheres são a maioria das trabalhadoras na Guararapes, elas ocupam mais da metade dos postos de trabalho na empresa. Portanto, são as mais atingidas pela precarização do trabalho e exploração da mão de obra. A maioria dessas trabalhadoras enfrentam dupla e até tripla jornada de trabalho, não têm direito a creche e muitas deixam seus filhos com familiares.
Uma costureira, que ganha salário mínimo, teria que trabalhar 820 anos para ganhar o que um dono ganha em 1 ano.Numa jornada de 8 horas diárias, em 2016, a trabalhadora da Guararapes gastou 3 horas e 46 minutos para pagar seu salário e as 4 horas e 14 minutos restantes, ela trabalhou de graça para a família Rocha.
Afinal, de que lado os donos da Guararapes estão?
Flávio Rocha, dono da Guararapes, tenta vender a imagem de vítima e que o MPT está perseguindo a empresa. Usa os trabalhadores como escudo contra a ação do Ministério Público do Trabalho. Está manipulando a informação e passando para aqueles que produzem seus devastadores lucros, que a ação coloca em risco os seus empregos e por isso é necessário defender a Guararapes.
Os donos da Guararapes ao fazer isso, mentem para as trabalhadoras e trabalhadores, e demonstram que não estão nem um pouco preocupados com os empregos dessas famílias, mas sim, com a manutenção dos seus lucros.
Um estudo realizado pelo Ilaese (Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos) aponta que de 2011 até o primeiro semestre de 2017, as vendas da Guararapes chegam a, aproximadamente, R$ 6 bilhões por ano e crescem ano a ano. Por estes números, o lucro bruto também cresce a cada ano, desde 2011, e alcançará quase R$ 4 bilhões em 2017.
O lucro líquido da empresa é de cerca de R$ 400 milhões por ano. Como são 4 donos da família Rocha, cada um ganha R$ 100 milhões por ano.
Qual é a saída?
Os donos da Guararapes argumentam que são geradores de empregos, mas há três anos, já demitiu 2.495 trabalhadores. Esse modelo de empresa só aumenta a exploração dos seus trabalhadores diretos e terceirados (faccionistas), que paga um dos piores salários do Brasil, sendo o 3º lugar no ranking nacional.
A melhor forma de resolver esse problema, é estatizar a empresa sob controle dos seus trabalhadores. Assim, os R$ 3,5 bilhões de reais de lucro bruto da Guararapes deve servir para melhorar as condições de vida e trabalho dos seus funcionários e melhorar os serviços públicos de saúde, segurança e educação do Estado.
Entidades farão ato nesta quarta (27), em defesa dos trabalhadores (as) da Guararapes
Nesta quarta-feira (27), entidades sindicais do Estado irão participar de um ato público em defesa das trabalhadoras e trabalhadores da Guararapes. A concentração está marcada para às 16h, em frente à Procuradoria do Trabalho.