O Brasil registrou no ano passado um total de 2.093 greves, tanto no setor privado quanto no público. O dado consta do “Balanço das Greves 2016”, levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), e revela que o número de greves no país se manteve no patamar recorde obtido desde 2013, ano marcado pela explosão social das Jornadas de Junho.
Os dados analisados foram extraídos do SAG-Dieese (Sistema de Acompanhamento de Greves), que reúne informações sobre as paralisações de trabalhadores realizadas no Brasil desde 1978 e conta, atualmente, com mais de 30 mil registros. As informações são obtidas por meio de notícias veiculadas em jornais impressos e eletrônicos, da grande mídia e da imprensa sindical.
O movimento grevista em 2016 foi pouco maior que o registrado em 2013, último balanço sistematizado pelo instituto, quando ocorreram 2.055 paralisações. Segundo o estudo, com base em informações disponíveis, mas que ainda não foram registradas no sistema, o quadro se manteve em 2014 e 2015. Até 2012, a média de greves no país era de 500 por ano.
Em defesa dos direitos
Do total de 2.093 greves, os trabalhadores da esfera pública paralisaram suas atividades em mais ocasiões: 1.100 registros. Os trabalhadores da esfera privada tiveram 986 registros.
O Dieese destaca que, em 2016, 81% das greves incluía itens de caráter defensivo na pauta de reivindicações e mais da metade (56%) denunciava descumprimento de direitos. Reivindicações propositivas estiveram presentes em 34% das paralisações.
O Dieese considera greves propositivas as que propõem novas conquistas ou ampliação das já asseguradas. As greves denominadas defensivas são as que se caracterizam pela defesa de condições de trabalho vigentes, pelo respeito a condições mínimas de trabalho, saúde e segurança ou contra o descumprimento de direitos estabelecidos em acordo, convenção coletiva ou legislação.
Paralisações que visam ao atendimento de reivindicações que ultrapassam o âmbito das relações de trabalho são classificadas como greves de protesto. Em 2016, das 2.093 mobilizações, 271 (12,9%) tiveram esse caráter.
Das 864 greves (41% do total anual) das quais se obtiveram informações sobre o desfecho, cerca de 80% lograram algum êxito no atendimento às suas reivindicações, de acordo com o levantamento.
Categorias historicamente mais organizadas, como metalúrgicos, lideraram as mobilizações no setor privado. Na metalurgia, foram 181 movimentos, o maior número na indústria. A paralisação de grandes obras levou a 51 greves na construção civil e os químicos 11.
Nos serviços, foram 702 paralisações. A maioria dos movimentos (235, ou 33,5%) foi deflagrada por trabalhadores dos transportes. Na saúde, ocorreram 163 greves (23%); no turismo e hospitalidade – que envolve os trabalhadores de asseio e conservação -, 132 (18%); entre os vigilantes, 49 (7%) e entre os bancários, 48 (também 7%).
Das 2.093 greves registradas no ano passado, 52,5% foram no setor público das três esferas, que inclui administração direta, estatais e autarquias. A maioria se concentrou entre os servidores municipais. Nesse grupo, reajuste salarial foi a principal reivindicação. Perdendo apenas para os funcionários da administração direta, o magistério foi outra categoria a fazer mais paralisações. Muitas prefeituras não adotaram o piso nacional. O estouro da crise fiscal provocou greves gerais em estados, como no Paraná.
Os terceirizados do setor público tiveram que cruzar os braços para conseguir receber salários atrasados. Enfermeiros e outros profissionais de organizações sociais de saúde são um exemplo. Esses profissionais também sofreram em instituições filantrópicas, de acordo com Dieese.
Resistência e luta
Para o integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Paulo Barela, o levantamento do Dieese confirma a disposição de luta e a resistência dos trabalhadores brasileiros.
“Em meio à maior crise da economia capitalista, governos e empresas têm feito de tudo para jogar a conta sobre os trabalhadores. Para aumentar a exploração e recuperar suas taxas de lucros, são brutais ataques aos direitos, salários e às condições de vida em geral. Mas, se os ataques são grandes, a resistência também. Os trabalhadores não estão apáticos e estão indo à luta contra os ataques”, analisou Barela.
“São milhares de lutas pelo país afora, em grande parte específicas e por categorias, mas este ano assistimos inclusive o avanço dessas mobilizações com a realização de grandes lutas nacionais e inclusive a Greve Geral de 28 abril, a maior da história recente do país, numa contundente demonstração de que há disposição e força da nossa classe para barrar e derrotar os ataques dos governos e patrões”, disse.
“A campanha unificada dos metalúrgicos, que convocou um dia de luta neste dia 14 de setembro e que começa a ganhar a adesão de outras categorias como os servidores públicos, é mais um capítulo dessa luta. Como defende a CSP-Conlutas, é necessária e possível a construção de uma nova Greve Geral no país, pois os ataques não param e vem aí a Reforma da Previdência”, concluiu Barela.
Com informações do Dieese e de O Globo