Tiros de balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e pancadaria contra trabalhadores e estudantes que protestavam nas ruas de Brasília. Foi assim que o Senado conseguiu aprovar nesta terça-feira (29), por 61 votos favoráveis e 14 contrários, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, que congela o orçamento nas áreas públicas, como saúde e educação. O segundo turno da votação está marcado para o dia 13 de dezembro, com a proposta de promulgação já no dia 15 do mesmo mês.
“Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar” entoavam os manifestantes enquanto policiais ativaram bombas para dispersar o protesto. Dezenas de feridos foram atendidos ainda no local, por ambulâncias e equipes médicas organizadas pelos movimentos que construíram a Marcha.Enquanto mais de 25 mil manifestantes lutavam do lado de fora contra a PEC, enfrentando a truculência da polícia, os congressistas olhavam a cena do lado de dentro da Esplanada dos Ministérios servidos por “comes” e “bebes” pagos pelos trabalhadores.
O registro é emblemático e só confirma a necessidade de continuar a luta contra essa e outras medidas imputadas pelo Congresso e pelo governo de Michel Temer (PMDB), que pouco se importam com os interesses do povo mais pobre.
As pessoas nem sequer puderam acompanhar a sessão de votação da medida, em mais uma demonstração de total desrespeito e autoritarismo dos parlamentares.
Esse Congresso que chama de “vândalos” a quem luta e se manifesta legitimamente para barrar projetos que atacam os trabalhadores é o mesmo que está mergulhado em escândalos de corrupção e enriquecimento ilícito, destaca o membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Paulo Barela. “As delações feitas pela empreiteira Odebrecht, que inclui vários senadores em esquema de corrupção, deixa explícito que esses governantes não têm autoridade para fazer mudanças na constituição, ainda mais com esse grau de profundidade”, avaliou.
O dirigente repudiou a repressão contra manifestantes que só reafirma a conduta truculenta do governo vigente. “A reação da polícia, que foi encaminhada pelo governo Temer e também pelo Congresso contra a juventude e trabalhadores que estavam protestando, é uma expressão clara do autoritarismo de Temer, mas que também encontra eco nesse Congresso Nacional extremamente conservador, que apesar de estar mergulhado em corrupção, não recua na hora de atacar os trabalhadores”.
Nem o pedido feito horas antes para que a sessão fosse adiada devido ao momento de consternação nacional com acidente trágico que acometeu os jogadores, comissão técnica e jornalistas que estavam indo com o time de futebol Chapecoense para a Colômbia, sensibilizou o Congresso.
Lutas não cessam
Existe pressa para retirar os direitos dos trabalhadores, mas também existe a persistência em barrar essa e outras medidas.
Servidores públicos, trabalhadores da iniciativa privada, secundaristas, estudantes universitários, movimentos do campo, se unificaram nesta manifestação contra as medidas aplicadas pelo governo. A CSP-Conlutas foi a Brasília com uma caravana que contou com profissionais da Educação, setores do funcionalismo, mineiros, bancários, trabalhadores de Correios, metalúrgicos, a juventude da Anel, entre outros segmentos.
A mobilização, que aconteceu na Esplanada dos Ministérios durante a tarde do dia 29 e que se estendeu noite à dentro, em frente à Esplanada dos Ministérios e em frente ao Congresso Nacional é uma reação dos trabalhadores e da juventude desse país contra a política do governo de Temer e do Congresso Nacional.
A PEC 55 vai representar o congelamento de investimentos em políticas publicas, sobretudo, na saúde e educação, mas que também vai acabar com os concursos públicos, congelar salários dos trabalhadores, e evitar que a população tenha um atendimento necessário, principalmente àqueles que são mais necessitados: o povo pobre do nosso país.
É contra tudo isso que a CSP-Conlutas, mais do que nunca, insiste na necessidade de construção de uma greve geral no país. “A nossa Central vai continuar organizando conjunto da classe trabalhadora e a juventude para tentar barrar esse projeto no segundo turno. Continuamos com a nossa política de exigência às Centrais Sindicais para que se construa nesse país uma greve geral. Só é possível reverter esse processo, se nós construirmos uma greve geral. É preciso paralisar o país para não paralisar o futuro dos trabalhadores e da juventude”, finalizou Barela.