Na madrugada de domingo (12), 49 pessoas foram mortas na boate Pulse, em Orlando, nos Estados Unidos. O assassino, Omar Saddiqui Mateen, de 29 anos, matou dezenas de pessoas, segundo testemunhas, com o sorriso no rosto.
O massacre, inicialmente relacionado ao Estado Islâmico, em realidade apresenta traços de um sistema capitalista, que tem como base a LGBTFobia e a cultura da violência e imposição de força. O vínculo com o terrorismo pode, segundo Carlos Daniel, do setorial de LGBT da CSP-Conlutas, mascarar a real face de um assassino expressão de uma sociedade. “Pessoas que fazem isso estão imbuídas de ódio. Claro que a religião pode influenciar, e não só por parte dos fundamentalistas, também pelo Vaticano, mas não se trata de terrorismo, se trata de um ato de ódio”, salienta.
Em nota publicada nas redes sociais, Wilson Honório, do setorial de LGBT e também de Negras e Negros, relembra o aniversário de 47 anos da Rebelião de Stonewall, símbolo e marco da luta contra a LGBTfobia e a organização dos movimentos nos Estados Unidos, expõe a contradição implicada neste massacre quando se pensa nos importantes avanços da luta LGBT no país, e destaca que as mortes de LGBTs são cotidianas e alarmantes, nos EUA e também no Brasil.
“O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país, segundo pesquisa da organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU) (…) um de nós que tomba a cada 27 horas (lembrando que no caso de negros, o dado é ainda mais macabro: um a cada 23 minutos).
Nos EUA, a barbárie que vimos hoje também ecoa no dia a dia. Em 2014, houve 1.017 ataques contra LGBTs (18,6% dos crimes de ódio)”, registra.
Carlos Daniel reforça a denúncia, citando locais ligados ao movimento e frequentados por LGBTs, como o Greenwich Village e a cidade de São Francisco, onde os ataques não são novidades, “LGBTs são mortos nesses locais habitualmente”, diz, e ressaltando a vulnerabilidade dos grupos de minorias diante de atos criminosos de intolerância e ódio. “Se tivemos importantes avanços na luta LGBT nos Estados Unidos, quando se relembra Stonewall, quando consideramos a liberação do casamento gay, a adoção, a doação de sangue, ainda proibida aqui no Brasil, é neste sistema capitalista que é possível que massacres do tipo aconteçam. E quando dizem que poderia ter acontecido com ‘qualquer um’, vale lembrar que quando um atirador invade uma igreja, é para matar negros, quando um atirador invade uma boate, é para matar LGBTs, quando acontece um estupro coletivo, a vítima é a mulher. Os alvos são os grupos de minorias”.
E se há nos Estados Unidos uma tensa situação pré-eleitoral com candidatos extremistas como Donald Trump, o discurso do terrorismo pode não somente desvirtuar a real causa do massacre como alimentar a islamofobia e xenofobia no país que já é conhecido pela imposição de força e guerras pelo mundo. Wilson Honório exemplifica em nota que “como escreveu Marx, em 1870, em relação ao racismo e à xenofobia na Inglaterra, a burguesia, mesmo aquela que se diz ‘democrática’, não mede esforços nem meios para alimentar preconceitos, discriminações e contaminar corações e mentes de jovens, trabalhadores, mulheres, negros(as), indígenas etc. com um ‘antagonismo’ que ‘é mantido vivo artificialmente, e é intensificado pela imprensa, o púlpito, os jornais cômicos, em resumo por todos os meios à disposição das classes dominantes'”.
Pelos 49 mortos, a nossa indignação
O Fórum LGBT Potiguar realizará um ato político em memória às vítimas de Orlando, no Calçadão da João Pessoa, Cidade Alta, às 15h. O Sindsaúde estará presente nesta luta. O setorial de LGBT da CSP-Conlutas também organiza um ato para esta quarta-feira (15), às 19hs no vão livre do Masp, em São Paulo.