A suspeita de sete mortes por dengue no município de João Câmara está sendo investigada pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). De acordo com a Sesap, além do trabalho investigativo, João Câmara recebeu a cobertura do carro fumacê durante 12 dias, intervindo diretamente na proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Segundo dados do último boletim da dengue, com registros até o dia 20 de fevereiro, foram notificados 10.762 casos de dengue, superior ao mesmo período do ano passado, quando foram notificados 10.038 casos. Em João Câmara foram registrados 428 notificações. Sobre o número de óbitos com suspeitas de dengue, a Sesap contabiliza 15 até o momento, já incluindo os sete do município de João Câmara.
Número alto que preocupa a população de João Câmara.
No dia 4 de março, o Sindsaúde-RN realizou uma visita ao Hospital Regional de João Câmara, região Agreste do Rio Grande do Norte. As diretoras do sindicato, Simone Dutra e Edvalda Lopes, fizeram uma reunião com a direção e os servidores do hospital, para discutir a situação da saúde do município, tendo em vista a suspeita dessas sete mortes por dengue na cidade. Além disso, discutiu a necessidade de fortalecer a regional construindo comissões de bases. “A nossa ideia é organizar uma direção regional, mas enquanto isso não acontece, vamos eleger um grupo e construir comissões de base, para que o sindicato esteja mais próximo de vocês e mais vivo”, disse Simone Dutra, vice-coordenadora do Sindsaúde.
A direção ainda tirou algumas dúvidas dos servidores, como a perda do adicional de insalubridade, jornada especial, atendimento jurídico e o funcionamento das áreas de lazer.
Os servidores puderam relatar os problemas que ocorrem no hospital, sobretudo em um momento de epidemia. Para uma técnica de enfermagem, a situação da saúde está dessa forma porque não há investimento. “Não há estrutura para dar uma boa assistência aos pacientes. Tem respirador, mas não suficiente, as vezes chega paciente que precisa do aparelho e recorremos ao respirador manual, até chegar a ambulância”, disse.
Outra servidora alertou sobre a dengue. “A situação da saúde está muito frágil, chega muito paciente com dengue, só nesta madrugada morreram dois com suspeita de dengue. Os servidores também estão adoecendo”.
Segundo a administração do hospital, dois médicos pediram demissão. No momento há dois médicos e os demais são da cooperativa. “Cerca de 85% dos pacientes são do município e dão entrada no hospital, pois a atenção básica não funciona, tem unidade que não tem médico, falta medicação e falta saneamento básico. Então, essa crise não é só do estado, mas o município também está pedindo socorro”, ressaltou.
Para um servidor, “os governantes quando chegam as eleições prometem mundos e fundos, mas depois esquecem da gente”
Para um enfermeiro, algumas mortes poderiam ser evitadas se não fosse a falta de prioridade dos governos. “A crise é tão grande na saúde aqui de João Câmara que estamos nos baseando em sinais clínicos para fechar o diagnóstico dos pacientes, pois falta materiais, respiradores, estrutura e desabastecimento de medicamentos como dipirona, prometazina, entre outros. Se não fosse essa falta de prioridade dos governos, pacientes poderiam estar vivos até hoje”, disse o enfermeiro.
Para Edvalda Lopes, do Sindsaúde, além do descaso do governo do estado com a população em geral, ainda existe a ineficiência do serviço público municipal na qual deveria prestar um serviço público de assistência a saúde de qualidade na atenção básica, utilizando-se de um serviço de prevenção nas UBS/ESF. “Infelizmente João Câmara é uma das poucas cidades da Região do Mato Grande que não dispõe de uma UPA e nem outro serviço semelhante, sendo responsável por 85% da demanda de atendimento na urgência do Hospital Regional”, disse Edvalda.