Na tarde desta terça-feira (31), cerca de 50 crianças da Grande Natal esperavam atendimento na recepção do Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste, em Natal. A dona de casa Jadina Soares estava há mais de uma hora em pé aguardando com a filha de apenas três anos, pois as cadeiras já estavam todas ocupadas.
Do outro lado, na urgência, a servidora Francisca estava exausta, depois de 40 horas seguidas trabalhando. “Fui convocada para fazer uma substituição no domingo e até agora estou de plantão porque há um déficit muito grande. O poder púbico precisa acordar, pois estamos adoecendo com a sobrecarga de serviço. Nós que cuidamos dos doentes, estamos adoecendo e os culpados são os que estão no poder e não fazem nada para que a saúde pública se torne uma prioridade”, desabafou.
No dia anterior, o Sandra Celeste realizou 280 atendimentos com apenas quatro técnicos de plantão. Ou seja, 70 atendimentos por técnico, segundo os servidores.
O aumento da demanda é provocado principalmente pela epidemia de dengue, e ocorre no momento em que a equipe, já reduzida, perdeu 16 servidores, que retornaram para a Maternidade Leide Morais, reaberta no início de março. A maternidade estava fechada há quase dois anos, e durante todo esse tempo, os servidores de lá estavam cedidos tanto para o Sandra Celeste quanto para as Maternidades das Quintas e de Felipe Camarão, que agora também sofrem com a sobrecarga.
Após o retorno desses servidores, a Secretaria Municipal de Natal contratou provisoriamente seis servidores para amenizar a situação no Sandra Celeste. Estes estão se adaptando ao atendimento infantil, pois atuavam no atendimento adulto.
A diretora do hospital, Ana Guimarães, estima que o número de atendimentos dobrou nos últimos dias, o que tem ocasionado a demora nos atendimentos. Ela acredita que a grande demanda, que saltou de 130 para cerca de 300 atendimentos por dia, se deve à epidemia de dengue e à muitos casos de crianças com viroses.
Ana reconhece que há um déficit de funcionários na unidade, e afirma que, além disso, o adoecimento de alguns servidores acaba aumentando a sobrecarga. “Com a equipe que hoje disponibilizamos, daria para atender a demanda. O problema é que alguns funcionários estão com atestado médico. O atestado é um direito deles, por isso não tem como fazer nada. O que vai solucionar é abrir concurso público, pois essa é uma realidade geral”, afirmou.
A SMS calcula que o déficit em Natal alcance 4 mil servidores até 2016, contra os cerca de 6 mil que atuam hoje. “É o maior déficit do estado. Os servidores estão trabalhando por dois. Como vai abrir serviços se não tem quem trabalhe?”, afirma Célia Dantas, do Sindsaúde. Anunciado desde 2013, o concurso público deve ser realizado neste ano, segundo a Prefeitura.
Além dessas dificuldades, existem queixas sobre a falta de materiais e equipamentos precários, que dificulta os atendimentos de urgência, e as condições do prédio alugado. Na semana passada, o preparo da alimentação chegou a ser interrompido. O esgoto invadiu a cozinha da unidade, depois que a fossa encheu. Não é a primeira vez que o problema ocorre.